ARTIGO DA SEMANA - MENINOS TAMBÉM DANÇAM
MENINOS
TAMBÉM DANÇAM
Quem tem mais de 30 anos é de um tempo em que diversas
atividades humanas eram rotuladas e segregadas por gênero, implicando conotação
de sexualidade onde não havia, como não há também nos dias de hoje, nenhuma
possibilidade de associação. Uma menina brinca de boneca por que segundo a
ordem natural ela um dia pode vir a ser mãe. E os meninos não podem vir a serem
pais?
Na infância meninos não usavam nada que tivesse a cor
rosa, pois essa era uma cor de privilégio somente feminino. Por outro lado uma
menina não poderia ousar em jogar futebol, caso contrário já seria rotulada de “sapatão”.
Como se admitia sexualizar uma escolha infantil?
Um jovem dançar??? Nem pensar... Não era aconselhável que um homem dançasse. Afinal a dança, traz ao dançante, consciência corporal,
psicomotricidade, expressividade e mobilidade do corpo, desenvolvimento dos músculos;
etc... Como pode um homem se permitir à isso?
Um perigo mesmo! Vai que no futuro ele se apaixone por outro rapaz... Se
desafiassem essa estúpida convenção social, eram logo rotulados de “veados”, um
pensamento tão limitado, que não se permite, se quer, pensar fora da caixa do
conservadorismo mofado, que ainda passeia por aqui. Como se a opção sexual
pudesse ser definida por uma cor, uma profissão ou por um convívio. Na
mentalidade dessas pessoas, homossexualidade só existe em bailarinos,
cabeleireiros, jogadores de vôlei, maquiadores, mas jamais em médicos,
engenheiros, caminhoneiros, advogados; jogadores de futebol; essas sim são
profissões de “machos”. Triste rotulação.
Em diversos de meus textos reflexivos já mencionei que
educo meus filhos para serem homens, cidadãos, jamais machos.
Sim, tivemos uma educação machista, ultrapassada, sexista
e preconceituosa em muitos temas do cotidiano, mas cabe a cada um de nós,
quebrarmos a corrente da ignorância e não reproduzir essas posturas
discriminatórias com nossos filhos.
Atualmente chamam esses comportamentos de “masculinidade
tóxica” uma metáfora bem empregada, pois preconceito contamina aqueles que faltam
entendimento. Mas se uma prática tóxica é capaz de contaminar outras pessoas,
mensagens de liberdade e respeito também podem.
Perpetuar estigmas é fechar os olhos para a luz que
brilha além da caverna, é sobretudo se recusar a dar um passo na nossa
civilidade e permanecer na estreita moita dos julgamentos.
Se nós, jovens de trinta e poucos anos já vivenciamos
essa caosmose, imaginem nossos pais. Gerações anteriores às nossas, viveram sob
chibata e moralismo como estruturas do patriarcado.
Nossos filhos, se quiserem, podem dançar.
A prefeitura de Guarulhos desde 2017 oferece centenas de
vagas para cursos gratuitos de ballet/jazz no programa EducaDança, realizado
pela secretaria de educação. Nos últimos dias, com novas vagas abertas,
matriculei meus dois filhos no curso que é muito elogiado pelos pais dos que já
cursam há alguns anos. Poucos meninos integram o programa; mas cabe a nós desmistificar
a herança machista de que meninos não dançam. Meninos que dançam se desenvolvem
mais.
Arte sempre será motor de auto conhecimento e evolução humana, em todos
os sentidos, inclusive, de liberdade.
Tiago Ortaet
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