VAMOS PENSAR SOBRE TOLERÂNCIA???


E AQUELE BRASIL TOLERANTE ONDE FOI PARAR?

Se fizéssemos uma enquete perante nossos amigos e familiares sobre como avaliam o ano de 2019, de maneira geral, certamente as respostas estariam próximas da sensação que temos ouvido por aí, do quanto foi um ano pesado, conflituoso, intolerante, cheio de tragédias, com diálogos ríspidos e uma coleção de ataques de todos os lados... A sensação é que ninguém baixa a guarda e a todo tempo somos alvos de alguém... Para completar o ciclo de agressividades, muitos dirão que a melhor defesa é o ataque e uma artilharia de insultos já tem endereço certo.

Até aqueles temas que antigamente tinham pleno consenso por serem unificados, um bem comum e de interesse público, parece que ganharam uma certa “ideologização” para que as pessoas possam competir com suas convicções perante às outras, numa espécie de competição; jamais cooperação para se chegar num consenso. 

Semanas atrás postei numa rede social uma matéria que tratava sobre a valorização dos professores na sociedade; o conteúdo não fazia menção à nenhum partido político, nenhuma gestão pública, tratava do assunto em termos gerais e seu contexto histórico dos últimos 50 anos. Bastaram alguns minutos para internautas fazerem comentários ácidos e agressivos, mais alguns minutos já tinham mensagens com palavras de baixo calão entre três internautas que se degladiavam ferozmente. Eu excluí a postagem. Não estava a fim de ser palco para intolerantes.   

Durante décadas o Brasil foi considerado um país tolerante onde havia convivência pacifica entre judeus e palestinos, evangélicos e candomblecistas, árabes e muçulmanos, entre brasileiros e imigrantes; mas cadê aquele Brasil tão propagado pelo mundo como o país da tolerância???

Não vejo perspectiva de melhora desse estado crítico de um país inflamado, raivoso, revanchista e que está disposto a levar seus mais variados ódios às últimas conseqüências; uma prova disso foi o recente ataque terrorista sofrido pela produtora carioca “Porta dos Fundos” segundo um grupo neofascista de extrema-direita, que reivindicou a autoria do atentado, em vídeo apócrifo publicado na internet, o motivo do ataque incendiário com coquetéis molotov foi o especial de natal do grupo, veiculado na operadora Netflix. Na encenação os humoristas Gregório Duvivier e Fábio Porchat interpretam Jesus e um amigo, ambos personagens dóceis, sensíveis, preocupados em ajudar o próximo, porém para execração e heresia dos fundamentalistas religiosos, os personagens tem traços afeminados; foi esse o motivo de uma avalanche de protestos que começou com boicote à operadora que exibiu a teledramaturgia, abaixo-assinado virtual para retirada do humorístico do ar e por incrível que pareça, chegando nesse estágio de alucinação de tentarem incendiar a produtora. 

Nenhum de nós somos obrigados a assistir o especial de natal do Porta dos Fundos, a obra cinematográfica está num canal fechado e com classificação etária indicativa para maiores de 18 anos, ou seja, é um conteúdo restrito. Também podemos assistir e avaliarmos livremente, se gostamos ou não. O fato é que dada a polêmica o vídeo explodiu em sucesso batendo todos os recordes de audiência e já tem a confirmação de um novo especial para 2020. 

Sátira sempre será sátira. Certa vez vi um humorístico retratar um professor que agredia seus alunos, era um personagem agressivo e intolerante. Isso de forma alguma me ofendeu, mesmo eu sendo educador há quase 20 anos; pois compreendi que aquilo era uma caricatura típica do humor, um recorte, um personagem que nada tinha a ver com a grande maioria dos educadores do país.  

Que saibamos compreender que viver em sociedade é conviver com o diferente de nossas crenças e valores...

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