MUNIÇÃO LITERÁRIA é o artigo dessa semana no Jornal Guarulhos Hoje
MUNIÇÃO LITERÁRIA
Fui convidado a participar do mais recente encontro do ciclo de debates "Seminários Folha" promovido através da parceria entre Itaucultural e Folha de São Paulo. O ciclo de encontros aborda a economia da arte, de modo a exemplificar, de diferentes maneiras, a amplitude da arte em diferentes setores da sociedade, principalmente o econômico; ou seja, o impacto social da arte em sua transversalidade, perpassando por diferentes aspetos. Nessa ocasião a temática abordada foi "LIVROS" na perspectiva de apresentar projetos que inspiram novas possibilidades de incentivo à leitura e acesso ao livro.
Entre os convidados-palestrantes estavam o fundador de uma das mais relevantes e inspiradoras bibliotecas comunitárias do país, no município de Paiaiá na Bahia, Geraldo Moreira Prado, que tem realizado a Festa Literária do Paiaiá com a participação de mais de 40 escolas públicas da região e uma presença de mais de 4000 pessoas por evento. O extinto ministério da cultura apoiava o projeto do Seu Geraldo (como carinhosamente é chamado) mas atualmente ele tem mantido o projeto com seu salário de aposentado.
Também compuseram o palco de debates, sobre literatura e livros, o poeta Sérgio Vaz, com sua fala sempre contundente de empoderamento das comunidades através da leitura e também a gerente do Instituto Pró Livro e pesquisadora; Zuara, que inseriu dados estatísticos nos diálogos de modo a provocar novas reflexões.
Distantes de uma análise míope e maniqueísta de que pobre não lê e rico é sempre bom leitor, os protagonistas desse encontro realçaram falas lúcidas e permeáveis da questão do acesso à leitura.
"Precisamos desacralizar a literatura e tratar o leitor como se trata o escritor. A literatura tem que deixar de ser o pão do privilégio" frases proferidas pelo poeta Sérgio Vaz que encontram lastro nas realidades dos quatro cantos do país.
Num Brasil como este, atual, onde se criminaliza o ativismo pelos diretos humanos, não é tarefa fácil explicar a uma parcela da sociedade que o acesso à cultura é também um direito preconizado na declaração universal dos direitos humanos celebrada há 70 anos.
Um dos dados apresentados é de que 61% das escolas públicas do Brasil não possuem biblioteca ou sala de leitura.
Eduardo Saron, ativista cultural e diretor do Itaucultural mediou o debate com toda sensibilidade e eloquência que lhe são próprias.
Na contramão dessa triste realidade a cidade de Guarulhos tem boas iniciativas nesse sentido; tanto do poder público quanto da sociedade civil; temos uma academia guarulhense de letras atuante que tem se aproximado das escolas públicas em eventos literários para despertar, nos jovens, o gosto pela leitura. Do mesmo modo os slans e as batalhas de rimas tem ditado o tom das críticas sociais pela acidez (sempre necessária) da poesia juvenil que traz a voz das comunidades e incentiva a criação de novos coletivos pela cidade. Outras importantes ações que acontecem na cidade de Guarulhos são os encontros do clube do livro, promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Municipal da Cidade de Guarulhos - CODEMGRU e a Bienal do Livro de Guarulhos que na sua mais recente edição teve recorde de público e custou metade do que se praticava em outras gestões; uma prova de que mesmo com arrocho do erário público (o que é comum à todos os municípios do país, em tempos de crise econômica) é possível fazer acontecer eventos como esse, de grande impacto. Essas não são as únicas iniciativas, diversas outras despontam no cenário cultural.
O fato é que mesmo diante de iniciativas interessantes todos nós somos responsáveis por uma cidade leitora e cabe a cada cidadão fomentar essa prática no dia a dia, seja em casa, no trabalho ou em qualquer outro espaço social que frequentemos.
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