CENSURA NÃO
Censurar está em alta. O ato
de censura está super na moda... Será mesmo? Façam uma leitura desse tempo... Se
por um lado a censura possa render alguns milhares de votos daqueles que não
tem apreço pela liberdade, por outro, causa repulsa e repúdio de outra grande
parcela da sociedade, principalmente de instituições que salvam guardam os
preceitos do estado democrático de direito; via constituição federal.
O dicionário nos ensina que
cesura é “ação ou
efeito de censurar, análise, feita por censor, de trabalhos artísticos,
informativos etc., geralmente com base em critérios morais ou políticos, para
julgar a conveniência de sua liberação à exibição pública, publicação ou
divulgação.”
Há poucos dias o governador do estado de São Paulo
determinou o recolhimento de um material pedagógico que seu próprio governo
criou, sob alegação de ser um conteúdo impróprio para adolescentes do oitavo
ano do ensino fundamental II; o conteúdo abordava o respeito e tolerância com a
diversidade; ou seja, sob a ótica oficial do estado, discutir questões de
gênero é algo perigoso e impróprio para adolescentes que estão se formando como
cidadãos no mundo; bom mesmo é que eles cresçam ignorantes, intolerantes e
preconceituosos? Esse questionamento vai se revelando ainda mais oportuno
quando ligamos os fatos da atualidade.
Dias após a decisão do governador, em processo
movido por professores, a juíza de São Paulo, Sra. Paula Fernanda de Souza
Vasconcelos Navarro determina, via liminar, que o governador tem o prazo de 48
horas para devolver as apostilas aos estudantes. Em seu despacho a juíza considerou
improcedente o confisco do material pedagógico por gerar dano ao erário público
(mais de 330 mil apostilas foram distribuídas em todo o estado) e
principalmente por se configurar ato de censura.
Políticos de todo o Brasil vem tentando surfar numa
onda de conservadorismo e na expectativa de afagar uma parcela mais radical do
eleitorado flertam com medidas de censura, como se fossem atos heróicos, de
quem está bravamente livrando os estudantes de uma doutrinação em sala de
aula...
Sabe aquele sentimento de vergonha alheia? Pois
é... Nossa quanta tolice...
Sou educador de escola pública há quase 20 anos e jamais
aceito o rótulo patético de doutrinador; minha ação pedagógica coloca o
estudante num sério risco de se tornar mais humano, tolerante, empático,
altruísta, respeitoso e dialógico, principalmente com o que há de DIFERENTE de
sua rotina, sua crença, suas opções e realidades.
Há um ditado popular contemporâneo entre os jovens que
diz assim “fulano não pode ver uma vergonha que já quer passar”.
Dias depois do
ato de censura em São Paulo, o prefeito do Rio de Janeiro determinou a busca e
apreensão de um livro destinado à adolescentes em que havia um beijo entre dois
personagens masculinos, exposto na Bienal do Livro da cidade.
A medida
arbitrária causou reação de milhões de cidadãos mundo afora, inclusive de
diversas instituições e após uma briga de liminares na justiça o caso foi
matéria no supremo tribunal federal que decidiu como improcedente a apreensão
do material.
No Brasil de 2019, mesmo a homofobia sendo considerada crime em votação histórica do STF,
líderes políticos exaltam a ignorância e segregação de seu povo como se
governassem há 100 anos atrás.
A Bienal do Rio de Janeiro teve inúmeras
manifestações; recorde de público e a maior venda de livros da história; uma
prova de que o conhecimento é a verdadeira arma contra o retrocesso.
Tiago Ortaet
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