DO SACI ÀS BRUXAS - uma reflexão sobre a vivência de culturas na coluna dessa semana


DO SACI ÀS BRUXAS

Não são poucas as rodas de conversas informais, de mães, educadores, onde se discutem manifestações culturais de outros povos em nosso território brasileiro. 

Ao longo da história, a cultura pop brasileira incorporou no seu cotidiano diversas alusões à festejos internacionais. Muitas dessas conversas ficam somente na superficialidade, envolvendo dogmas religiosos ou pré-conceitos com o que vem de fora. 

Num mundo cada vez mais sem fronteiras nas questões do acesso à informação, globalizado em diferentes questões, a hibridização dos conceitos culturais de diferentes povos se evidencia. 

Sempre parto do viés pedagógico, do meu olhar de educador, para essas análises e evidentemente pondero que é de suma importância que valorizemos primeiramente a nossa cultura popular, nossas raízes culturais, mas estudar, pesquisar, vivenciar culturas de outros povos, não é, para mim, nenhuma heresia, mas um oportuno canal para novas conexões e ampliação do conhecimento.

O Halloween é um típico caso que carrega críticas por diversos motivos, uns garantem que não tem nada a ver com a cultura brasileira, de fato, é inegável que trata-se de uma  comemoração originalmente escocesa do século XVIII, que tinha como mote principal celebrar os mortos (na véspera do dia de todos os santos) e que foi adaptado para países como Reino Unido, Canadá, Irlanda e Estados Unidos.

Pela ótica da ludicidade, o Halloween tem em si, apenas uma teatralidade, um festejo prioritariamente infantil, opcional de cada família, é claro. Dentre outras brincadeiras, o Halloween consiste em bater de porta em porta na vizinhança para sugerir “doces ou travessuras”. Qual criança não gosta de doce? Qual criança não gosta de se fantasiar para explorar sua vasta imaginação de se transformar num personagem? Qual criança nunca apronta uma travessura? Mas os adultos e suas “adultecências” exacerbadas, adoram trazer questões de uma esfera em que jamais uma criança vai chegar, muitos afirmam rotineiramente, que esse tipo de festa, invoca coisas más, que instiga bruxarias, chegam a dizer até que essa comemoração tem característica satanista, pasmem; pois todos esses conceitos citados não fazem parte da maturidade de uma criança, cabe a criança apenas brincar; que é o ato mais belo da infância.  Mas esse festejo não é apenas para crianças; com os adolescentes a comemoração faz ainda mais sucesso, qual é o jovem que não gosta de um filme de terror? Adolescente, curioso por natureza da idade de descobrimentos, gosta do que é oculto, como o suspense de uma história de terror... Mas não somente isso, a música, os comes e bebes, as indumentárias, o idioma inglês e etc; muitos são os atrativos para os jovens consumirem esse festejo popular.

Em contraponto ao Halloween, no ano de 2003 foi promulgado projeto de lei que instituiu o dia 31 de outubro como o “dia do Saci” de modo a evidenciar uma lenda tipicamente brasileira. O saci e outras lendas brasileiras integram o conjunto de valores, costumes e tradições culturais do nosso folclore. Etimologicamente; a palavra folclore, em livre expressão, pode se traduzir da cultura inglesa folk= povo e lore= sabedor; ou seja, povo que sabe de suas raízes...  Como pesquisador da cultura, sou muito a favor de ambas as festividades. É muito importante para crianças conhecerem outras culturas e por que não vivenciá-las?  

Outras datas comemorativas e personagens que são celebrados no Brasil e não tem origem brasileira, são de fora; como o papai Noel (imaginem um velhinho barrigudo com uma roupa apropriada para o Polo Norte visitando o verão brasileiro de quase 40 graus na sombra) o dia dos namorados (trazido da cultura americana, a data chegou ao Brasil pelas mãos do então empresário João Agripino Dória Júnior, atual governador de São Paulo, que queria emplacar aqui o mesmo sucesso mercadológico que o Dia dos Namorados tem lá fora. Foi escolhido o mês das piores vendas (Junho) e a véspera do Dia de Santo Antônio, o casamenteiro, para a celebração) o Ano Novo Chinês, a própria “BlackFriday” que recentemente foi apropriada no calendário econômico do nosso país, dentre outros.

Temos sempre a liberdade de escolher o que entra na nossa casa; esse pátrio poder é sempre da família, mas é salutar que criemos nossos filhos para serem tolerantes com o mundo, de modo a respeitar as diferentes manifestações de diferentes culturas.  

Tiago Ortaet

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