VAMOS PENSAR SOBRE A NOSTALGIA DAS IMAGENS...
CULTURA VISUAL
Não há quem
fique imune ao passado e também não há quem nunca tenha se projetado ao futuro
numa catapulta daquelas de nos lançar ao longe; muito mais longe do que podíamos
imaginar... Nossa vida é recheada de imagens... Todos nós já ouvimos em algum
momento alguém dizer “Nossa passou um filme pela minha cabeça” e é isso mesmo,
um turbilhão de imagens vem à nossa mente, sempre que estamos na berlinda dos
sentimentos; seja por uma emoção de vida, como a chegada de um filho, o
nascimento de um neto, uma conquista sofrida, um amor latente, etc ou uma
emoção de morte, na perda de um ente querido, na despedida de um amigo, na
alcova de uma traição, numa separação, diante de uma catástrofe, etc; tudo se
apresenta de uma só vez no nosso cérebro que é o guardião daquele que fomos, da
áurea de quem somos e da luz daquele que seremos.
As imagens
nos cortejam, nos alimentam, nos revigoram ou nos aprisionam...
Quem nunca
ficou com uma mesma imagem persistindo por horas, por dias ou meses em nossa
mente?!?! Os sonhos brincam com essas imagens; nosso inconsciente embaralha
tudo isso para o onírico ter a liberdade que precisa em nosso momento de
repouso.
Ouvi uma
homilia de um importante pároco, recentemente, em que ele dizia que depressão é
excesso de passado e ansiedade é excesso de futuro, ou seja, inevitavelmente as
imagens nos arrebatam. Cabe a nós sabermos lidar com isso da melhor forma
possível. O poder do que é visual é grandioso... Com essas imagens vêm várias
outras sensações e sentidos humanos.
Eu, ao ver
uma foto de minha mãe, sinto até o cheiro da comida dela; aquele cheiro que dava
pra sentir do lado de fora de casa...
Ah como é
bom ver aquele que fomos um dia, como é nostálgico ver aquela versão antiga de
nós mesmos, uma mistura de cheiros e sabores, de tatos e fatos que nos colocam
em suspiro. É possível olharmos para alguma imagem do passado e sequer nos
reconhecermos, mas é ainda mais provável que nos alagamos em lágrimas pelas
oportunidades que vivemos, seja de ter um abraço que já não temos mais, seja de
uma conversa daquela voz que já não mais se ouve...
Imaginem só
a rica oportunidade das novas gerações de terem infinitos registros de sua
infância em vídeos, fotos, em redes sociais que traçam uma linha do tempo de
nossas vidas. Com essa comodidade vem a superexposição também e cada um é
responsável a dar a real medida e limite para essa exposição. Não existe regra;
cada um com seus critérios muito pessoais.
Eu sou filho
da periferia, meus pais, na década de 80 não tinham condições de fazer
registros fotográficos, naquela época eram registros relegados aos mais pobres;
diferentemente da democratização do acesso aos registros que temos hoje em dia,
na palma da nossa mão, independentemente de classe social. Eu tenho
pouquíssimas imagens de minha infância; além disso, a imagem em movimento nos
traz ainda mais viva a presença dos registrados; eu gostaria muito de assistir
algum vídeo em que eu pudesse ouvir a voz de meu pai, falecido há mais de 30
anos atrás.
Essa cultura
visual de acesso pleno à imagem não está somente em nossos lares, em nossos
celulares, mas no mundo de modo geral, está ao nosso redor, num mundo
globalizado em pleno movimento, principalmente o movimento interno, do mundo
que há em nós.
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