ARTIGO DA SEMANA

SOCIEDADE FAST-TUDO
Eu estava assistindo telejornal num canal de tv aberta, quando percebi algo muito em comum nos dias atuais, que reflete uma profusão de conceitos, meios e mensagens. Na tela da TV havia o âncora do telejornal noticiando um fato, enquanto, ao mesmo tempo, aparecia na tela uma tarja com informação de outra notícia e abaixo dessa tarja havia uma segunda tarja, menor, em movimento, com uma terceira notícia daquele dia; uma verdadeira simbiose esquizofrênica de informações, de modo que mesmo telespectadores inquietos como eu, se incomodam e se atrapalham em tentar compreender três notícias ao mesmo tempo.
Talvez esteja aí mesmo o tom de nossa contemporaneidade; a rapidez nem sempre nos ajuda, ela pode também nos atropelar. Nessa rapidez mora a superficialidade das coisas, como se o mundo fosse acabar amanhã cedo.
Vivemos num tempo em que tudo é muito rápido. Evidente que a agilidade nas tarefas diárias, na maioria das vezes é cúmplice de nossa comodidade, de nosso conforto. É muito bom pedir uma pizza num click no celular ou enviar aquele relatório de trabalho pelo whatsapp ou receber informações sobre a evolução de nossos filhos no colégio através de uma rápida mensagem no celular. Tudo isso nos traz soluções imediatas. Até aí é muito bom.
Mas eu me refiro a um outro tipo de rapidez, aquela agilidade que chega quando precisamos de pausa e atenção, de análise mais criteriosa e foco. Quem gosta de entrar num consultório médico e sair em 50 segundos? Já aconteceu comigo e aposto que com você também. O médico mal olha em nossos olhos, pergunta o que está acontecendo e enquanto você está relatando os acontecimentos ele te interrompe e diz: “Toma esse remédio” lhe entregando uma receita e dizendo “obrigado, pode deixar a porta aberta”. A gente sai da sala do médico com uma sensação de que ele não deu a menor importância e mais parecia estar diante de um robô entregador de receitas. 
Ao mesmo tempo que gozamos da rapidez no que nos favorece também somos vitimas dessa mesma agilidade sem propósito.
Anos atrás, durante minhas férias, viajei à cidade de Fortaleza no estado do Ceará; eu minha família fomos até um restaurante e pedi um frango assado. A senhora veio até nós e começou a fazer perguntas. Eu estava com pressa pra chegar em casa e almoçarmos; depois da quinta pergunta eu disse à ela: “a senhora pode agilizar meu pedido por gentileza. É que estou com muita pressa” ela me olhando me disse com aquele sotaque inconfundível “Tú é de São Paulo né?!?! Pra quê tanta pressa? Nem parece que está de férias...” Aquela frase me fez refletir por muitos dias.
Somos hábeis em julgar que os jovens dessa geração são impulsivos, não sabem esperar, querem tudo pra ontem, mas não apenas os jovens (que naturalmente são inquietos, típico do adolescer), mas todos nós, estamos diante de um mundo que urge o tempo todo. Um mundo que exige demais... Exige que se forme, que se case, que tenha filhos, que seja bem sucedido, que seja feliz, que tenha automóvel do ano, que faça dieta, que tenha imóvel, que não envelheça, que saiba de tudo, que tenha milhares de contatos, enfim, esquecemos que não há cartilha para viver e que cada um caminha na velocidade que desejar.

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