MEU ARTIGO DESSA SEXTA-FEIRA NA COLUNA DO JORNAL GUARULHOS HOJE


O HINO NUNCA SERÁ PROBLEMA

Na semana passada escolas públicas e particulares de todo o país receberam virtualmente carta assinada pela maior autoridade educacional do Brasil (pelo menos na questão hierárquica), o ministro da educação Ricardo Vélez, em que constava a diretriz de que as escolas perfilassem seus alunos, os filmassem cantando o hino nacional, que os professores deveriam ler a própria carta em que continha o slogan de campanha do atual presidente; por fim a orientação seguia com o envio do vídeo para o MEC para que eles fizessem posteriormente publicidade do ato de governo. 

Entidades de classe, sindicatos, pensadores e pesquisadores da educação, educadores,  gestores e principalmente internautas de todos os estados brasileiros se manifestaram imediatamente nas redes sociais rechaçando mais uma trapalhada do ministro que dias atrás afirmou em entrevista que turista brasileiro é “ladrão e canibal” o fato foi noticiado nos principais jornais do país, na grande mídia e a repercussão chegou até na imprensa internacional. 

Para alguns a repercussão pode ter sido alarmista, desproporcional; pois acusam que os que são contrários a tal carta, na verdade, não querem ver as crianças com noções de patriotismo e civismo; quando muito pelo contrário, o que se repudia não é a execução do hino, mas um posicionamento autoritário e carregado de “ideologismo” quando o mesmo grupo eleito passou meses em campanha dizendo combater exatamente o que chamaram de “ideologia nas escolas”. 

O hino nacional jamais será um problema, desde que executado dentro de uma proposta pedagógica e contextualizado no trabalho didático de sala de aula é um excelente recurso de conhecimento de identidade nacional, de retórica acerca da história do país e plataforma para uma pesquisa interdisciplinar com as crianças e os adolescentes; o problema mesmo é o desconhecimento de um ministro de estado em pedir para crianças serem filmadas sem consenso dos pais; problema mesmo é receber a imposição hierárquica de execuções do nosso hino sem viés pedagógico, apenas como propaganda de governo; problema é sobretudo que não se tenha discernimento de que a campanha eleitoral acabou desde outubro do ano passado e que não tem cabimento utilizar slogan de campanha política em sala de aula, aliás, isso é crime. 

Executar o canto hino nacional, aliás, já é obrigatório, e a determinação é prevista na Lei número 2.031, de 2009, assinada pelo então presidente em exercício da época, José de Alencar.

Enquanto o próprio ministro se desculpava pelo reconhecido equívoco dias depois, ainda bradava nas redes sociais a defesa do indefensável de um eleitorado “facebookinano” que mais parece fã-clube, com poucos argumentos e muita paixão, cidadãos diplomados em doutores honoris causa em educação sem nunca antes ter pisado numa sala de aula para lecionar. 

Dificilmente em algum momento da história do país, tanta gente fale com tanta “propriedade” do que desconhece; como nos dias atuais, infelizmente as redes sociais diplomou esses “especialistas”. 

Posturas autoritárias ferem de morte a cátedra do magistério que prevê a autonomia do professorado diante dos contextos históricos do país. 

Nosso hino nacional é uma celebração da nossa história e que saibamos passar essa história à limpo de forma permanente, numa avaliação constante; como bem fez a agremiação carioca Estação Primeira de Mangueira, nesse carnaval, que nos presenteou com uma aula na avenida, cantando ao mundo nossa brasilidade ao exaltar os heróis anônimos que não estão nos livros de histórias. 

Nessa apoteose cultural de cantoria do hino nacional nas escolas de todo o país, já podemos dar um passo adiante e pensar em investir mais em educação pública de qualidade, com a participação de todos, que não sejamos guiados por mente-funil, pátria amada, Brasil. 

 Tiago Ortaet

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