RELATÓRIO 01 - OFICINA DE TEATRO SOCIAL - Prof. Tiago Ortaet 2024


 RELATÓRIO DE ENCONTRO TEATRAL

Sábado, 20 de abril de 2024

 

Rostinhos ansiosos pelo inesperado. Um misto aparente de inquietude de alguns e timidez de outros.

 

Curiosidade de criança é o motor que move um aprendizado significativo, da descoberta, da experiência, da relação humana. O brilho nos olhos desses meninos e meninas chegando para o primeiro dia da oficina de teatro é a síntese da prática artística: disposição e imersão.

 

No primeiro momento dialogamos sobre a importância da disciplina, respeito e empatia para a produção artística, falamos do código de ética e da rotina de exercícios que vivenciaremos juntos.

 

Apresentei o “livro de memórias DAIKI” que a cada final de encontro será levado para casa de um dos participantes da oficina para registrar suas impressões do encontro anterior. Daiki é uma palavra de origem na cultura japonesa que significa “grande árvore” ou “grande esperança”

 

A metodologia dessa oficina passa por “perguntas mobilizadoras” e nesse sentido indaguei os participantes a refletirem para além do que cada um veio buscar, mas principalmente: O que eu trago para essa oficina? Surgiram inúmeras respostas: “Eu trago alegria, entusiasmo, curiosidade, energia, compromisso, amor…” A cada sentimento trazido, todos deveriam repetir em uníssono o que seu colega trouxe para a roda teatral.

 

Os orientei que em nossa oficina jamais constrangeremos qualquer um dos participantes, que cada um só deve realizar a atividade se sentir-se plenamente a vontade e acolhido, porém ressaltei o quanto é importante que cada um se permita, se desafie e participe integralmente, no seu tempo, para experienciar da criação individual e coletiva.

 

Foi reiterado também que toda semana haverá tarefa de casa. A primeira atividade de pesquisa em casa é sobre o artista inglês “Charlie Chaplin”. Adiante prosseguimos com os jogos teatrais:

 

* GESTO TROCADO

Todos caminhando pelo espaço, considerando o espaço cênico como um “platô” em que não se pode ter maior peso de um lado do que do outro para que a plataforma não caia; os aprendizes seguiram as orientações de comando do professor.

Comandos de parar/andar, dar um pulo/bater palma eram intercalados.

A medida em que os atores/jogadores passaram a ter mais consciência corporal, de modo a não esbarrarem nos colegas e ocupar bem os espaços, os gestos passavam a ser trocados, ou seja, quando o professor pedia para bater palma era para dar um pulo, assim sucessivamente.

O esforço de concentração exigido era para se conectarem com o significado oposto à palavra.

Habilidades/competências desenvolvidas: Orientação espacial, raciocínio rápido, trabalho em equipe...

 

* CORPO-FALA

Orientados por diferentes cenários e situações, cada ator/atriz deveria imprimir em seu corpo as indicações verbalizadas pelo professor. As situações-limites iam se intensificando a medida que a história era contada. Cada um, a sua maneira, precisaria colocar o corpo em cena.

“Você está caminhando atrasado para ir à escola.” - “Você está caminhando atrasado para ir à escola e com dor na sua perna direita.”  - “Você está caminhando atrasado para ir à escola, com dor na sua perna direita e acabou de defecar na calça devido uma diarreia inesperada.”  - “Você está caminhando atrasado para ir à escola, com dor na sua perna direita, acabou de defecar na calça devido uma diarreia inesperada e lembrou que não fez o que sua mãe pediu em casa.” -  “Você está caminhando atrasado para ir à escola, com dor na sua perna direita, acabou de defecar na calça devido uma diarreia inesperada, lembrou que não fez o que sua mãe pediu em casa e quando está retornando pra casa presencia um atropelamento.”

Durante todo o exercício os atores/atrizes não podiam se expressar verbalmente, somente através de gestos corporais.

Habilidades/competências desenvolvidas: Expressão corporal, criatividade, interpretação...

 

* O QUE MINHA PERSONAGEM DIRIA DISSO…

No imaginário teatral construímos a história do personagem Sr. João, um vendedor de algodão-doce que trabalha na porta da escola e foi atropelado numa tarde de segunda-feira enquanto caminhava até seu local de trabalho. A partir desse embrião de narrativa, cada um dos participantes deveria se colocar em cena demonstrando, primeiramente qual sua proximidade com a personagem principal: É seu amigo? Seu avô? Seu funcionário? Seu esposo? Ou somente um conhecido? Em seguida, o que o seu personagem diria num contexto trágico como esse?

Além disso os aprendizes foram instigados a perceber quais objetos cênicos seriam necessários para compor o cenário dessa cena.

Habilidades/competências desenvolvidas: Criatividade, oralidade, adaptabilidade, percepção espacial...

 

* IMPROVISAÇÃO A PARTIR DE MELODIA

A orientação de contexto cênico foi apresentada à turma a partir de uma orientação correográfica em que o elenco deveria fazer sincronizadamente um gestual de exaltação ao céu, ao mesmo tempo em que cantavam a primeira estrofe da canção “Olha pro céu meu amor” de Luiz Gonzaga. A entoação deveria ser interrompida por algum dos atores ao momento em que o mesmo pegasse o chapéu de cangaceiro deixado no palco, do lado esquerdo do corpo cênico. Esse ator/atriz deveria contradizer a letra da canção com argumentos a partir de improviso. Foi orientado para que os fazedores da cena explorassem expressão oral, inclusive com sotaque regional nordestino e expressão corporal.

Habilidades/competências desenvolvidas: Trabalho em equipe, expressão vocal, tomada de decisão...

 

Houve pausa para o lanche da tarde oferecido pela instituição e em seguida retornaram para a segunda parte do encontro:

 

* JOGO DOS NÚMEROS EM AÇÃO

Todo ator/atriz deve ter “prontidão cênica” o que significa estar plenamente conectado com tudo e todos ao seu redor, seja em cena ou nos bastidores/coxias. Essa integralidade de corpo e de mente precisa ser condicionada, treinada, ao longo dos estudos teatrais.

Nesse sentido, o jogo proposto foi em roda, o professor nomeou cada um com um número, a princípio em ordem crescente. O elenco foi orientado a memorizar pelo menos o número de outros dois colegas para que o jogo fosse possível.

Um jogador, autorizado pelo professor, iniciou a rodada fazendo um gesto contundente de palma e se deslocando para o lugar do colega (número) que ele escolheu, por consequência esse colega escolhido continuava o jogo indicando outro colega, sempre dizendo o número correspondente a cada um.

Não se trata de um jogo competitivo, mas colaborativo, de modo que não há um vencedor; mas o grupo todo vence quando consegue imprimir dinamismo e agilidade fazendo a roda girar. 

Habilidades/competências desenvolvidas: Cooperatividade, raciocínio lógico, agilidade, percepção visual, percepção sonora, espacialidade...


* APRESENTO MEU AMIGO

Os aprendizes puderam escolher um colega para formarem uma dupla. Cada um teria 1 minuto e 30 segundos para se apresentar para o seu novo colega contando algo importante da sua vida. Em seguida era a vez de ouvir o colega se apresentando. Ao final, todos se reuniram em roda e tiveram que apresentar o seu colega para todo o grupo.

Habilidades/competências desenvolvidas: Confiabilidade, percepção sonora, comunicabilidade...

 

* QUADRO-VIVO

Voluntariamente os aprendizes deviam, um a um, se dirigir ao palco, fazer um gesto expressivo e congelar. Em seguida outro colega deveria ir até o palco e complementar o gesto inicial, dando continuidade àquela narrativa. Quando todos se colocaram dentro desse quadro-vivo, o professor os orientou que a partir daquele momento quem fosse tocado no ombro, deveria verbalizar uma pequena frase improvisada dessa personagem dentro daquele contexto criado. 

Habilidades/competências desenvolvidas: Coletividade, dinamismo, expressão oral, criatividade…

 Ao final do encontro todos receberam um kit da Hamburgada do Bem.

 Nessa semana quem levou o “DAIKI” para casa foi a aprendiz Laura.

 



 

                                                                                                                                                 Tiago Ortaet

Arte/educador, especialista em linguagens da arte pela USP

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