SÉRIE DE ENTREVISTAS - BLOG CONTINENTAL CULTURAL 15 ANOS - ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA FERNANDA ESTRAMASSO

Entrevista com ex- alunos, coordenadores pedagógicos, vice-diretores, diretores e comunidade escolar da Escola Estadual Tomie Ohtake em celebração aos 15 anos do Projeto de Arte/educação e Educomunicação BLOG CONTINENTAL CULTURAL sobre os impactos socioculturais do projeto ao longo dessa prática e fomento de protagonismo juvenil. A entrevistada de hoje, que abre uma série de entrevistas, é a psicóloga Fernanda Estramasso, ex-líder jovem do projeto, que atuou de forma ativa com a escrita de muitas postagens dentre os anos de 2013 à 2016. A série de entrevistas com personagens da história do projeto é também parte de uma pesquisa acadêmica de minha autoria, titulada "Quais os impactos socioculturais da educação midiática em direitos humanos na formação de adolescentes periféricos de escola pública de Guarulhos/SP? Estudo sobre a transversalidade, interterritorialidade e representatividade da comunicação estudantil." realizada na faculdade de jornalismo.


Professor Tiago Ortaet: O Blog Continental Cultural foi implantado em fevereiro de 2009 e foi usado exclusivamente para atividades pedagógicas da E.E. Tomie Ohtake até dezembro de 2020. De que forma, você avalia que o projeto tenha influenciado numa melhor comunicação entre a comunidade escolar? 

Fernanda: O Blog era uma plataforma de comunicação e, sobretudo, integração. Aparecer nele, ou ter algum post relacionado a turma escolar, era como ter uma matéria publicada em qualquer revista de sucesso. Fazíamos parte, éramos vistos, considerados como parte fundamental da composição da escola. O Blog rompia com a visão limitante em que o professor detém o conhecimento e os alunos apenas o recebem. Tínhamos voz e vez.

Professor Tiago Ortaet: O referido Blog foi inaugurado numa época em que muito se falava, mas pouco se praticava a inserção de mídias na educação. Você acredita que ainda hoje, projetos de educomunicação corroboram para uma educação libertária? Por que? 

Fernanda: Sim! Estamos imersos em uma cultura rodeada por informação, e a tarefa dos educadores tem sido cada vez mais transmitir o "como se faz" de uma boa curadoria, compartilhando a postura ativa do processo de ensino-aprendizagem junto as educandos. É proporcionando espaços de autonomia que os sujeitos vão adquirindo habilidades de posicionamento frente ao mundo e, sobretudo, de construção do espaço em que estão inseridos.

Professor Tiago Ortaet: A partir do Blog escolar, muitos outros projetos surgiram, como as Eleições dos Líderes Culturais, a Virada Cultural Independente, os Desfiles de Moda, séries de performances teatrais, entrevistas com membros da escola e o Vídeo Music Gleba. Hoje, passados muitos anos desse ciclos pedagógicos, como você avalia a participação da comunidade escolar nesses eventos promovidos? 

Fernanda: A comunidade escolar se engajava diretamente com o Blog e os projetos que surgiram a partir deste. Especialmente porque se tratavam de um rompimento de padrões, de novas propostas culturais, de movimentos que pouco (ou raramente) se viam dentro de um contexto escolar (e, por sinal, fora dele também).

Professor Tiago Ortaet: Pautas identitárias como combate ao racismo e a homofobia, o enfrentamento à violência doméstica e demais temáticas dos direitos humanos foram abordadas em ações e projetos vinculados ao Blog escolar. Iniciativas como essas promovem a transversalidade do currículo escolar a partir de equidade, justiça social e reparação histórica. Como você avalia a possibilidade de criação de uma rede local de educomunicação para a troca de experiências discentes/docentes?

Fernanda: Hoje já existem diversas possibilidades de comunidades em que podemos realizar esta troca entre discentes e docentes, haja vista o advento das redes sociais; entretanto, o paradigma arcaico de educação contida nos limites da escola ainda precisa ser transpassado. É necessário pensar e agir em prol do fortalecimento dos discentes, a fim de que possa haver segurança e o "passo-a-passo" para que a transmissão de saberes extrapole os muros escolares. A educação mudou, muito fala-se disso, mas o sistema segue ainda os padrões enrijecidos que não cabem mais em nossa realidade multiplataformas. Uma rede local, bem como redes locais (comunidades afora), devem ser pensadas e propostas; são possíveis de serem executadas, desde que haja, antes, um extenso trabalho de fortalecimento e apoio junto aos professores.

Professor Tiago Ortaet: A burocracia do cotidiano escolar, por vezes, pode inviabilizar iniciativas vanguardistas, que fomentam a inclusão e reflexão dos estudantes. Como a equipe gestora pode acolher e incentivar projetos dessa natureza?

Fernanda: É necessário que a equipe gestora esteja ciente, "convencida" do potencial transformador dessas iniciativas, tenha "comprado a ideia", como dizemos de modo popular. Isso porque também para ela será um desafio romper com as nuances conservadoras e arcaicas, lidar e transmutar todas as imposições contrárias, bem como acolher e encorajar que os medos sejam transformados em informação, dados, fatos, contato com o real, que cada vez mais tem mostrado a importância de projetos e propostas para uma nova forma de educação.

Professor Tiago Ortaet: Há algum fato que você possa destacar sobre essa atuação do Blog Continental Cultural?

Fernanda: Enquanto alguém que vivenciou a construção e manutenção do Blog Continental Cultural, posso afirmar que ter um espaço onde nós, alunos, nos víamos presentes foi fundamental para que tivéssemos contato com o que hoje chamamos de protagonismo juvenil (termo que já existia na época, claro, mas não era tão difundido como hoje). Além disso, era no mínimo interessante observar o movimento dos demais professores que se engajavam com o blog, e os que observavam com distanciamento, além de, ouso dizer, se referiam ao BCC com certo desdém de quem não possui as ferramentas suficientes para olhá-lo pelas lentes da inovação na educação.

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