Uma crítica da FOLHA DE SÃOPAULO sobre o espetáculo que assistimos nessa sexta-feira no SESC PINHEIROS


Neuroses contemporâneas inspiram comédia "Os Adultos Estão na Sala"


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


A realidade do mundo contemporâneo é tão maluca que não parece caber numa peça de linguagem realista.
A autora e diretora Michele Ferreira bem que tentou transformar "Os Adultos Estão na Sala", comédia que estreia amanhã, numa obra que traduzisse com verossimilhança as questões da sociedade contemporânea. Desistiu. Foi buscar inspiração no teatro do absurdo e na linguagem dos desenhos animados.
Obra inaugural da A Má Companhia Provoca, grupo oriundo do Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho, o espetáculo flerta com o teatro físico. O vazio das três mulheres que protagonizam a obra, cujas características espelham neuroses do ser humano atual, é expresso não só pelos diálogos frenéticos, mas também pela expressão exagerada das intérpretes.
Ligiane Braga/Divulgação
As três protagonistas da peça "Os Adultos Estão na Sala"
As três protagonistas da peça "Os Adultos Estão na Sala"
O retrato da realidade composto por Ferreira, para a atriz Maura Hayas, cria uma sensação de sonho. "A peça apresenta um mundo artificial. Nele, barbaridades ocorrem e tudo parece esquisito", diz ela, que compõe o elenco ao lado de Flavia Strongolli e Michelle Boesche.
Na trama, droga, sucesso, álcool e dinheiro surgem como únicos elementos capazes de trazer felicidade. As personagens vivem enclausuradas dentro de um apartamento. Falam, mas não realizam coisa alguma e não saem do lugar --um sofá que ocupa o centro da cena. "Daqui a pouco seremos avós e não aconteceu nada", diz uma delas em um raro momento de lucidez.
"Essas pessoas somos nós", diz Ferreira, que define a obra como "um espetáculo de espírito de porco cômico".
Um menino que nunca aparece atua como quarto personagem. Ele está na sala ao lado, ouve toda a conversa dos adultos. Surge como o membro mais esclarecido da casa, enfatizando deturpações nos comportamentos humanos da atualidade.
"O que acontece quando uma criança percebe que o mundo dos adultos é construído em cima do lodo?", pergunta Ferreira.
A autora não responde a questão lançada em cena. Prefere provocar o espectador expondo a lama que se espalhou pelo mundo

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