África 2010
ESCULTURA TRÍADE SOCIAL
MERGULHOS NOS PROCESSOS CRIATIVOS ARTÍSTICOS EM LÓCUS SOCIAIS DO BRASIL
Por Tiago Ortaet
Minha participação no Encontro Internacional de Educação Artística em Cabo Verde organizado pela Universidade do Porto e pela Mindelo Escola Internacional de Arte me fez remeter ao passado traçando destinos de aprendizagem e ressignificando cada pagina escrita por mim em contato com muitos. Estar nesse encontro foi um desaguar.
Tenho ligações com as artes desde a infância quando ainda na escola publica já organizava uma espécie de produção precária com os materiais que seriam descartados, compondo os cenários e elementos cênicos das peças teatrais que apresentava com meus amigos.
Nosso entusiasmo e legitimação das expressões artísticas eram maiores que as precariedades de recursos materiais.
As poças d´águas que transformávamos em lagos eram possíveis pela crença de que toda aquela criação simbólica era real. De fato sempre foi.
Mesmo tendo eu liderado as inúmeras ações de arte dentro da escola enquanto aluno, relato em terceira pessoa do plural para destacar a importância da coletividade, pois nada se faz sozinho; ninguém evolui no isolamento, somos seres peculiarmente de relações.
Passada mais de uma década de experimentos, eventos, cursos e oficinas. Estava devolta ao recinto escolar, mas desta vez como professor. Havia de germinar em outros jovens a arte colhida em mim.
Acompanho as mesmas turmas desde o Ensino Fundamental I (o que no sistema de ensino do Brasil corresponde da 1ª a 4ª série dos anos iniciais) atualmente eles são adolescentes da 8ª série do Ensino Fundamental II. Desenvolvo com esse grande grupo uma formação cultural que engloba um ciclo de atividades e ações pedagógicas em arte que vai desde visitas culturais, passando por grandes eventos de arte na escola até um blog-arte na internet.
O humanismo como essência é o fio condutor de todas as ações que pleiteio no espaço escolar, daí nasce o vínculo e a afetividade necessárias para uma relação de confiança e produtiva entre professor e aluno.
Esse projeto é fonte de pesquisa para meu futuro projeto de mestrado, pois alio a vida docente-discente com pesquisas acadêmicas para ter um melhor e mais amplo embasamento da realidade.
Sob os eixos do titulo “Arte/Educação, mídias e novas tecnologias – um desafio didático na cultura contemporânea” fui aceito como interferente pela comissão organizadora do evento.
Explicitando de forma genérica o projeto consiste em articular algumas indispensáveis ações: Eleições dos Líderes Culturais + Auto-avaliação + Diário de Bordo + Expedições Culturais + Eventos de arte na escola + Educação Resgate + Trupe Ortaética de Teatro Comunitário + Blog Continental Cultural + Acampamento-virada Cultural. Essas são peças da mesma escultura.
As ações a longo prazo priorizam a autonomia dos jovens em busca de experiências que sejam significativas para eles. Em sua maioria as atividades não são temporárias ou únicas elas tendem a ser permanentes, ou seja, mesmo as que acontecem anualmente, no ano seguinte são revistas e novamente realizadas com novos temas e propostas.
O lago se torna mar quando partimos do acesso as representações simbólicas que a arte viabiliza e do mergulho por completo no universo artístico.
Assim mediei as experiências para apresentá-las de forma bastante intensa e provocativa no EIEA.
Ao vivenciar todo aquele ciclo de palestras, oficinas e debates comecei a estruturar uma escultura social do meu trabalho em consonância das propostas do evento. Para isso além do mosaico de imagens, dos escritos e olhares que trouxe, me subsidiei com as memórias que deixei aos presentes, mas que estarão sempre comigo para debater em outros palcos do mundo.
Uma síntese do trabalho de arte/educação comunitária que realizo no Brasil com a tríade de diferentes lócus sociais: A Escola Estadual “Parque Continental Gleba I” da periferia de Guarulhos na qual tenho fortes raízes e vínculos afetivos, pois trata-se da escola que me formei como cidadão. Nesse espaço acontecem grandes ações pedagógicas com âmbitos relevantes na condução dos projetos e demais ações.
Outro eixo experimental do referido trabalho é o coletivo de artes que fundei dentro do “Centro de Atendimento Biopsicossocial Meu Guri”e depois de 2 anos migrou para o “Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo”, trata-se do projeto artistico “Trupe Ortaética de Teatro Comunitário” onde possuo um mote teatral para debater questões humanas e sociais. E o ultimo eixo de sustentação desse complexo projeto é uma recente atuação (pouco mais de 1 ano) na Escola Municipal “Frei Antonio de Santana Galvão” na periferia de São Paulo, sem dúvida a mais árdua e desafiadora das experiências, pois a escola está inserida numa comunidade altamente marginalizada e excluída socialmente.
Legado da Trupe Ortaética como coletivo de Arte/Educação Comunitária em São Paulo – BRASIL
O grupo surgiu em Janeiro de 2008, da idéia de atender crianças e adolescentes dentro de um Centro de Atendimento Biopsicossocial, a partir das ações educativas do Arte/Educador Tiago Ortaet, na época inserido numa equipe multidisciplinar (Psicólogos, Assistentes Sociais e Arte/Educadores) em regime de atendimento familiar sistêmico, através de encaminhamentos dos Conselhos Tutelares Jaçanã/Tremembé e Santana/Tucuruvi, ambos na Zona Norte de São Paulo, com os quais eram mantidas parcerias.
As famílias encaminhadas pelos órgãos de proteção eram vitimizadas pela vulnerabilidade social e outras seqüelas familiares como envolvimento com drogas, evasão escolar e conflitos das mais diversas naturezas.
Ao passarem por uma triagem, que além de um bate-papo, também respondiam algumas questões teorizadas na obra do Filósofo Pierry Bordeaux (Ethos, Hábitus), essas famílias eram convidadas a integrarem as aulas teatrais com abordagem social.
Inicialmente a Trupe Ortaética de Teatro Comunitário era composta unicamente por seu fundador e maior idealizador das abordagens de arte num espaço até então dominado pela psicologia e assistência social.
A visão apregoada era de que as pessoas tinham que ter a arte como um espaço de reflexão, mas todas elas não seriam ali, vistas por seus problemas, como rotineiramente ocorria, mas sim pelas suas habilidades e competências.
Vencendo a resistência de alguns profissionais da entidade e tendo uma coordenação democrática, a arte ganhou espaço pela interdisciplinaridade. A força primeira desse projeto de arte/educação foi sem dúvida, de sublinhar a humanidade nos detalhes do cotidiano.
Após contínuos estudos e pesquisas, em diferentes teorias, ficou mais saliente a nossa pré-disposição de nos embasar nos escritos teatrais do teatrólogo Augusto Boal, com sua metodologia do “Teatro do Oprimido” não apenas pelo ambiente “Biopsicossocial” ao qual estávamos inseridos, mas também pela estética adotada para o trabalho.
Práticas e experimentos foram degustados como performances de rua e intervenções urbanas com os mais de 30 alunos freqüentes dos encontros semanais.
Nas turmas de estudantes, também estiveram jovens abrigados, jovens em liberdade assistida (L.A.) e crianças com deficiências mentais leves (Síndrome de Dall e depressão), porém sempre buscamos e tivemos suporte conceitual, especializado de profissionais da equipe, CAP´s AD e órgãos competentes.
Encerrado o ciclo de estréia do projeto artístico e didático, mas não menos experimental da companhia, foi dada a largada para um segundo semestre ainda mais intenso e ousado, pois agora receberíamos também adultos de todas as idades, uma vez que a intenção era que as famílias se reunissem para pensar arte.
Pensando arte estariam buscando conhecer-se melhor, estariam coexistindo com as dificuldades, podendo muitas vezes nesse processo, conhecer a solução de alguns dos seus problemas por elas mesmas.
Novos temas eram propostos pelos alunos das oficinas, que nessa fase já somavam 100 pessoas, entre pais, mães, tias, avós e netas. Famílias inteiras reunidas em exercícios dinâmicos e estratégicos.
Os temas eram discutidos coletivamente, utilizados em jogos teatrais, em exercícios de artes plásticas individuais, levadas às ruas e praças da cidade de maneira performática e intervencionista no trajeto das pessoas dos bairros próximos e compartilhada as experiências e olhares em grupos de debates. Após essas encenações; transformavam-se saberes, tornando real uma arte-manifesto.
O trabalho sempre foi comunitário, por essa premissa acolhíamos todos interessados, desde dentistas a faxineiras, desde andarilhos a estudantes, de atores a recepcionistas, de jornalistas a jornaleiros, de professores a alunos; essa sempre foi uma característica importante da nossa ação: A pluralidade, a diversidade, construindo um teatro social.
No segundo ano de atuação a Trupe Ortaética passou a ter contornos de grupo de estudos interdisciplinares, tendo como mote o teatro. Nessa nova fase do projeto, ao longo de todo ano de 2009, foram mais de 400 alunos freqüentes nos 11 grupos formados. Nosso maior desafio seria de produzir o primeiro espetáculo da companhia, mas havia de serem temas relevantes sociais.
A força do trabalho frutificou e no primeiro semestre, após meses de preparação estreamos o Espetáculo PERFEIÇÃO num auditório em São Paulo para mais de 1000 pessoas, entre familiares, amigos e convidados dos alunos da Trupe.
No semestre seguinte, já tínhamos conquistado um importante patrocínio que nos possibilitou ter novas oficinas, novos espetáculos e ainda mais vagas para ensinar a arte de interpretar às pessoas que não pudessem pagar por um curso.
Ainda em 2009, já sediados no PALÁCIO DO TRABALHADOR na região central da cidade de São Paulo, os integrantes dessa Cia Comunitária encenaram os espetáculos: “Quando as máscaras caem”, “Trabalhar é preciso, sonhar é obrigação” ambos criações coletivas, dirigidos por Thaís Aguiar e “Machbeth” de Shakeaspeare, “Meu Trabalho, minha vida” e “É um jogo” composições dos grupos dirigidos por Sol Borges; todos apresentados em nossa tradicional maratona de apresentações titulada de “FORMARAU” um mix de teatro, música, e sarau de poesias.
O grupo sempre teve a preocupação de produzir vídeos documentais do processo de criação dos trabalhos realizados, a cada semestre de três a seis vídeos são editados e exibidos em sessão solene-popular para centenas de cidadãos envolvidos com a proposta do grupo.
Em 2010 aumentamos ainda mais nossa oferta de vagas para cursos gratuitos de teatro às mais diversas comunidades de São Paulo, disponibilizamos novas oficinas como contação de histórias, malabares, percussão corporal, iniciação musical, cenário, fotografia, dramaturgia, além de palestras com artistas nacionais e internacionais, graças a nossa ousada busca por colaboradores voluntários e parcerias com empresas que apóiam atividades culturais.
Em 2011 no 4º ano de atividades seguimos os passos de uma arte reflexiva e porta aberta para novas experiências. Pela primeira vez implementamos oficinas teatrais de módulo II e uma oficina exclusiva de intervenções urbanas. Além disso, firmamos parceria com um importante grupo de pesquisa teatral de São Paulo e exploramos nossos vínculos sociais com outros estados. Inauguramos uma experiência de intervenção em artes visuais e Cênicas com Associação Comunitária da Barra da Lagoa em Florianópolis.
Não somos simplesmente uma companhia teatral produtora de espetáculos e pesquisadora de técnicas das artes cênicas, embora saibamos da complexidade de nossa proposta, temos o compromisso social enraizado em nosso objetivo primeiro de ser um DEMOCRATIZADOR CULTURAL levando nossa arte a todas as classes sociais, sobretudo uma arte/educação comunitária.
O protagonismo juvenil das artes na escola através do BLOG-ARTE CONTINENTAL CULTURAL em Guarulhos – São Paulo - Brasil
SÍNTESE DA EXPERIÊNCIA
Este projeto artístico/pedagógico foi iniciado no mês de Fevereiro de 2009 e desde então é uma ação permanente com NOVAS METAS A CADA NOVO SEMESTRE.
Este espaço cibernético www.continentalcultural.blogspot.com é uma exploração cognitiva do espaço virtual como compartilhamento de saberes, uma vitrine das produções artísticas dos alunos, uma SALA VIRTUAL DE ARTES, um ateliê na rede e potencialmente um poético Diário Virtual de Classe.
Nele, os alunos comentam matérias sobre as aulas semanais de arte, opinam nos projetos de arte/educação, sugerem eventos, relatam experiências e também PRODUZEM MATÉRIAS CULTURAIS da comunidade escolar envolvendo temas relevantes.
A experiência aqui relatada refere-se a uma já sabida árdua jornada ao meio uma escola pública que infelizmente ainda contempla parcialmente as novas tecnologias e o acesso digital, ou seja, uma unidade escolar que (até Fevereiro de 2010) ainda não dispunha de infra-estrutura para um projeto que contemple esse tema apresentado, pois nossas ações iniciais teriam sido muito mais eficazes se tivéssemos em nossa escola (na época) um amplo LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA a disposição dos alunos. Em todo caso, o mérito primordial desse trabalho é a persistência de um projeto nas condições reais da escola e da comunidade, distantes das condições ideais de materiais físicos; DIFICULDADE ESTA QUE NÃO IMPEDIU O TRABALHO.
Embasado na teoria do Sociólogo Francês Pierre Levy e nos escritos da Arte/Educadora Brasileira Ana Mae Barbosa, através da obra que organizou, titulada de “INTERTERRITORIALIDADE” esta ferramenta tende a ser um meio de troca de idéias, compartilhamento de conhecimentos e abordagens dos conteúdos debatidos em sala de aula com caráter desafiador, para mobilizar os estudantes em sua criticidade. Seu teor editorial também está embasado em notícias e atividades que fulguram a escola e seus alunos, uma possível educação interdisciplinar.
“Na escola, as artes não só devem ter seu espaço específico como disciplina do currículo, embora ensinadas por meio da experiência interdisciplinar, mas também lhes cabe transitar por todo o currículo, enriquecendo a aprendizagem de outros conhecimentos, as disciplinas e as atividades dos estudantes. Estamos falando do que oficialmente se designou transversalidade curricular, um termo que o educador espanhol César Coll copiou para os Parâmetros Curriculares Brasileiros do Currículo Nacional da Inglaterra.” Trecho do livro INTERTERRITORIALIDADE, mídias, contextos e educação, 2008 Ed. Senac São Paulo.
DIAGNÓSTICO
Após pesquisa informal realizada na Unidade Escolar foi comprovado que 80% dos alunos eram frequentadores assíduos de "LAN HOUSES" no bairro onde está situada a escola; com consentimento e autorização de seus pais.
Desses alunos muitos trouxeram um respaldo de que essas casas de internet (lan houses) eram pontos de encontro dos jovens daquela comunidade.
Nesses acessos a internet o público escolar informou não acessar conteúdos artísticos e/ou educativos; eles declararam acessar simplesmente sites de jogos eletrônicos.
OBJETIVOS GERAIS
Rever conceitos sobre quem são os produtores de arte e de cultura numa abordagem plural.
Apregoar a idéia de que os estudantes podem ser produtores de arte em processo, arte como procedimento, como experiência e pesquisa.
Contemplar as quatro principais linguagens da Arte e seus temas transversais como propõem o novo Currículo da Secretaria de Estado da Educação e concomitantemente os Planejamentos Curriculares Nacionais.
Explorar os conteúdos em potenciais, intrínsecos às produções, estilos e linguagens das exposições que são visitadas nas instituições de arte e também, do mesmo modo àquelas que são produzidas na escola.
Estabelecer relação entre a produção estudantil em arte e a produção profissional em arte.
Gerir a capacidade fruidora do indivíduo a partir de seu repertório visual.
Proporcionar novos saberes através da arte e autenticar essa disciplina fundamental no currículo escolar como área do conhecimento e pesquisa de campo.
Trazer as teorias expostas no “CADERNO DO ALUNO” para as vivências cotidianas do PROTAGONISMO JUVENIL nesse espaço virtual.
Aproximar os alunos do ciberespaço, interagindo e conhecendo sites dos principais institutos de arte (oficiais ou não) da cidade, do estado, do país e até mesmo do mundo, sob os quais terão seus endereços eletrônicos em links no nosso blog.
OBJETIVO ESPECÍFICO
Estabelecer proximidade do “lócus” virtual com uma educação contemporânea.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Como embasado na pesquisa realizada para produção da Proposta Curricular do Estado de São Paulo em ARTE a partir de textos do Filósofo Gilles Deleuze, o tema "TERRITÓRIO DAS ARTES" é exposto para nós como uma rede que se articula; desse modo também metaforicamente foi considerado o projeto do BLOG CONTINENTAL CULTURAL.
Uma teia flexível que se relaciona com demais campos e áreas, um espaço dialógico entre temas.
É desejo do idealizador desse projeto bem como intenção descrita no projeto apresentado à Diretoria de Ensino que as ações sejam cada vez mais interdisciplinares, fazendo com que as disciplinas dialoguem e proponham debates, mas que não fique nenhuma área submissa às demais. Sendo assim o referencial teórico destaca-se pela pesquisa de campo e pelas áreas abrangentes: Filosofia, Sociologia, Estética, Geografia, História, Língua Portuguesa, Mídias, Tecnologias e Arte/Educação de autores ícones de suas áreas, alguns ainda citados nesse documento.
RELAÇÃO COM A PROPOSTA PEDAGÓGICA
Ao se tratar de uma linguagem tipicamente contemporânea o acesso ao mundo virtual que teve seu advento a pouco mais de uma década é, sem dúvida alguma, uma oportunidade que precisa ser contemplada numa proposta construtivista de interação com o meio em que se vive. Se propõe uma educação para o desenvolvimento humano (e a arte é peculiar a esta terminologia), mas para ação além da teoria é necessário estar em espaços que a juventude ocupa, seja ele real ou virtual.
* Proposta pedagógica da U.E. LETRAMENTO/CORPO/LINGUAGEM/CULTURA.
AVALIAÇÃO
Pautada numa sistematização de avaliação semelhante ao da Secretaria de Educação a avaliação dos alunos é contínua mediante a participação e proposição de conteúdos ao espaço virtual, bem como seu envolvimento semanal nos debates em sala de aula dos conteúdos expostos no blog e impressos para eles.
Existem dois grandes eixos da “AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA” que se pretende com esse projeto: O primeiro trata-se da dissertação “AVALIAÇÃO PESSOAL DE RENDIMENTO ESCOLAR” onde o estudante reflete inicialmente numa dinâmica teatral sua postura frente ao seu estudos e interesses, em seguida redigi um texto com suas impressões, saberes adquiridos e expressão do que julgar mais relevante.
O segundo eixo emancipatório realizado em sala de aula é a “AUTO-AVALIAÇÃO” onde numa oratória ao professor o estudante se auto atribui um conceito numérico de 0 a 10 sobre seu envolvimento com a proposta das aulas de arte e conseqüentemente com o blog cultural.
RESULTADOS OBTIDOS
Após seus 12 meses iniciais além do êxito de ter o espaço virtual como um campo de debate, o projeto também tornou-se uma vitrine das produções artísticas dos alunos. Essa iniciativa tem chamado atenção não apenas da comunidade local (alunos e seus familiares), mas também de instituições governamentais e privadas de arte, cultura e educação.
Fomos convidados a gravar um documentário para o CENTRO DE REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO MÁRIO COVAS após conhecerem nosso trabalho pela internet, tendo como tema "O mundo digital".
O material teve depoimentos dos alunos e exposição didática do projeto. A edição foi feita pela Fundação Padre Anchieta e será distribuído para centenas de escolas da rede como um exemplo consolidado de acesso digital, incentivo a leitura e democratização cultural, mesmo nas difíceis condições estruturais de implantação.
Sobretudo o resultado notoriamente obtido e de maior sucesso sem duvida é a autonomia dos alunos de escreverem matérias a partir de suas idéias para publicarem no blog, proporcionando reflexão em ambas as ações, desde os produtores das matérias culturais até os colegas leitores da escola.
UM MERGULHO NO OCEANO DE METODOLOGIAS E PROPOSTAS DE ARTE/EDUCAÇÃO
O que podemos definir como um relato pedagógico de uma expedição cultural?
Reflito essa condição como um conjunto de elementos que cercam os dias de vivências e não simplesmente o debate de teorias tamanhamente comuns em ocasiões como esta.
Entendo a Educação como um processo de construção rizomática onde as relações se articulam em teias e os saberes se transformam a partir da experiência. É assim minha concepção de ensino de arte aos meus alunos e assim também conduzo minha formação permanente na missão de educar.
Meus oito anos de dedicação a formação docente até aqui me possibilitou rever meu trabalho por diversas vezes e, sobretudo reivindicar do sistema educacional oportunidades de fazê-lo.
Não são apenas meus 27 anos de vida que me permitem ser um descobridor da juventude docente a cada dia, mas a minha paixão pela arte e pelo seu poder de educar que me creditam força para descobrir e redescobrir o afeto , o vínculo e o respeito pelos estudantes. A educação do olhar sensível que vê o que não está aparente, que lê nas entrelinhas e passeia com o rigor dos desbravadores.
Um evento como o Encontro Internacional de Educação Artística organizado por toda essa engajada equipe desperta sobretudo conexões com diferentes possibilidades, tira o profisisonal da zona de conforto, do emergente solipicismo, pois estamos só com nós mesmos em nossas salas de aula.
A concepção “antropo” (do grego: aquele que olha para o alto) dos organizadores remete a toda altitude de nossas práticas profissionais no sentido da execução de nossos afazeres artísticos e nos conduz de volta a nossa formação sempre necessária, nos conecta com novas formações e com isso pudemos ressignificar nossas formações com novas contribuições e por que não dizer provocações.
Sempre me dediquei em ser um pesquisador de mim mesmo e esse desejo não se encerra, não se finda, não se pode ser finito, somente se renova.
O máximo nas possibilidades de relações culturais entre povos, expressões humanas e manifestações artísticas das mais diversas é sempre combustível que move o motor da nossa complexidade.
Uma das mais brilhantes e elucidativas obras da pesquisadora Raquel Mason “Por uma arte/educação multicultural” tem logo em seu prólogo de abertura um eloqüente texto de Ana Mae Barbosa (que esteve conosco no EIEA) e sob minha interpretação fundamentaliza uma máxima dos professores propositivos.
No texto ela trata da questão de educadores que buscam em seus repertórios docentes e em sua história de vida metodologias a partir das experiências vividas, ou seja, a própria trajetória de pesquisa como embasamento teórico e metodológico, evidente atrelados a importantes referências. De tantos fatos importantes do livro esse foi o que mais me despertou atenção, pois se assemelha muito com meu propósito de observatório na arte/educação que proponho nos diferentes lócus sociais que atuo.
Como já dito e reiterado agora, esse processo criativo de amadurecimento e produção numa vida docente que se embase nas artes para pesquisar requer além da auto-análise profissional, também acessos a novas e desafiadoras fontes de formação. Foi nesse ponto que angariei experiências significativas no Encontro Internacional de Educação Artística.
Falar de si pode causar um estranhamento, pela proximidade, pela intimidade de cada gesto e detalhes realizados, pelo idealizado em confronto com o realizado, mas por outro lado, exercer essa individuação que Jung consideraria possivelmente de um retorno de si, é proporcionar ao outro e a si próprio recursos para o debate.
“Narciso acha feio o que não é espelho”
Essa frase do compositor Brasileiro Caetano Veloso está como advogado do Diabo da própria experiência artística, pois ao lidarmos com egos, principalmente o de quem o faz, estamos em contato com essa interiorização necessária.
Minha presença não esteve ali simplesmente para relatar um “projeto que se conta”, mas esteve para muito além disso, desejava propor reflexões frente a liderança e protagonismo dos jovens brasileiros que médio numa arte/educação contemporânea que concebemos juntos, uma vez que toda manifestação critica, inteligente requer participação democrática. Creio que me muitos aspectos minha fala deu conta disso.
O procedimento que crio sob minhas principais referências que são Augusto Boal (teatrólogo Brasileiro da metodologia do Teatro do Oprimido) e Paulo Freire (pedagogia social) aliado e claro com outras importantes referências de meus estudos é para mim o meu método constantemente revisto e revisitado.
Estão impregnadas na essência de meu trabalho artístico os valores deixados por cada criança, adolescente e profissional que transita por esses projetos de trabalho. Do mesmo modo cada livro que leio se articula como um campo de pesquisa para o que já foi feito e prospecção ao que será planejado.
Sobre esse ciclo criativo que proponho encontro inúmeras dificuldades dos sistemas sociais, sejam eles públicos ou privados. A burocratização é uma injeção de alienação em toda e qualquer manifestação artística e por isso os artistas somos por muitos trangressores.
O isolamento que os professores se encontram os transformam em ilhas ou em países com fronteiras permitidas simplesmente pelos governos que pouco ou nada entendem de arte.
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