NOVA REFLEXÃO POÉTICA SOBRE EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA - TIAGO ORTAET 2024

"A Negra" 1923 - Tarsila do Amaral
 CRÔNICA ANTIRRACISTA

 Eu sou de uma época em que mamãe dizia que segunda-feira era dia de branco, por que era dia de acordar cedo e ir trabalhar, mas ninguém me explicava que essa expressão vinha de uma ação de segregar...

 Eu sou de uma época em que qualquer indisciplina que eu cometia, meu nome era anotado numa lista negra da escola, mas ninguém me explicava que esse nome advinha de um desserviço da história…

 Eu sou de uma época em que as pessoas diziam que a coisa ia ficar preta, quando algo de muito ruim poderia acontecer e que tudo só se resolveria se fosse possível esclarecer… Mas ninguém me explicava que o preconceito só se fazia recrudescer…

 Eu cresci e me tornei educador, compreendi que dor nenhuma poderia ser desconsiderada, que a cultura dos meus alunos, antes enterrada, germinava, floria, negritude alguma poderia ficar enviesada, nenhuma dor, tampouco a que não dói diretamente em mim…

 Eu menino branco, agora um educador atento a todo canto, tenho por dever ético, promover uma educação de coalizão, conceber o ato dialético entre a história contada e aquela que nunca quiseram contar…

 Me mostraram tudo que um homem branco fez, mas nunca me apresentaram Maria Firmina dos Reis…

 Uma foto para além daquela emoldurada, mas para pretejar… Nossa ação pedagógica deve nascer do verbo enegrecer, recontando a história pra reconstruir nossa memória e esperançar um país de verdade.

 Me espanta o tanto febril do susto da sociedade juvenil que não lhe fora apresentado o poeta astuto desse Brasil, que morreu esses dias, prestes a virar monumento, valei-me Abdias Nascimento… Que mesmo tardia sua propagação literária, suas letras renasçam nessa molecada…

 Eu tô falando de missão e semeadura, lápis e papel, se ainda tem quem aceite que a auto-estima da nossa gente desça de rapel, que nossa sociedade se agigante feito Leite levantando fervura pelos versos de Adão Ventura… Não vamos permitir que sonhos fiquem vencidos na prateleira do destino condenado. Pra isso temos um banquete em fartura pra pagar essa dívida histórica, ou seja lá qual for a nomenclatura… Diversa e anota, aquele verso e aquela cota, meu coração é escultura de argila com a força da negra de Tarsila.

Capoeira, maracatu e afoxé, vatapá, caruru e acarajé…

Bispo do Rosário, Elisa Lucinda e Tião Macalé…

Amores em relicário, o samba da esquina e o terreiro do candomblé...

Samba, Jongo, miçanga, quilombo, caçamba, mocambo e mungunzá…

Cocada, caçula, feijoada, marimbondo e Iemanjá... 

 Quem quer aprender, quem quer se exercer enquanto humano em evolução, pode enegrecer sua reflexão e parar de achar que falas racistas podem ser brincadeiras, pode tomar atitude e aprender com um samba da Mangueira… Alforria para nossa periferia, nela cabe toda poesia que transborda e se derrama, feliz de quem teve aula com o Dr. Luis Gama, bem aqui nessa terra Pindorama…

Professor Tiago Ortaet

Março de 2024

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