Novo artigo do Professor Tiago Ortaet sobre a violência das torcidas organizadas
Violência Organizada
O futebol, para nós
brasileiros, é muito mais do que uma prática esportiva, é parte
intrínseca da cultura e brasilidade, é entretenimento, lazer e
patrimônio histórico imaterial, ainda que não oficial, mas de
fato, pois embora o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – IPHAN ainda não reconheça o futebol como uma de suas
mais memoráveis celebrações brasileiras; a ginga, o drible, os
clubes, as torcidas apaixonadas, os são, diante da preferência da
população, marcos de grande representatividade do Brasil de ontem e
de hoje, haja vista a relação que temos, não apenas em copas do
mundo, em que se decreta até mesmo feriado nacional ou ponto
facultativo, mas também nas finais de campeonatos país adentro.
Você que está
lendo esse artigo, pode até não gostar de futebol, o que também é
compreensível, mas é praticamente impossível não ter nenhuma
relação com esse esporte, seja vendo familiares torcendo pelo time
do coração, seja resgatando memórias de infância ou mesmo batendo
uma bola com os amigos na praia.
É inegável que o
país que tem o maior atleta do século, trate o futebol como uma
paixão absoluta; mas tudo em demasia, pode
também, se tornar alienante. Há mais de duas décadas torcidas
organizadas estão na mira, não apenas do ministério público, mas
dos três poderes, para tentarem domar (criminalizar) instintos
animalescos de bandidos disfarçados de torcedores.
Grupos de vândalos
que depredam patrimônio público e privado, que colocam em risco a
vida de verdadeiros torcedores nas arquibancadas e nas ruas, os mesmos vândalos que se esconderem no bando que os acolhem e juntos com
paus, pedras, facas, armas de fogo, artefatos explosivos e muito ódio
pelo adversário, transformam um estádio em um Coliseu de batalhas
medievais.
Enquanto prevalecer
a insanidades de torcedores, que acreditam que para enaltecer o seu
time do coração é preciso odiar (e não é exagero dizer,
exterminar) o torcedor adversário, o país não será um lugar
seguro para torcer em paz. Não se pode tolerar a intolerância das
torcidas organizadas.
Tal qual, parte da
sociedade brasileira tem lidado, recentemente, de forma exacerbada e
fanática com a política, torcedores extremistas prestam um
desserviço à beleza do futebol.
O país que tem em
sua história, o maior atleta de todos os tempos, amarga também o
hanking de um dos países mais violentos quando o assunto é torcer
nas arquibancadas dos estádios e fora deles.
Em 2003 foi
promulgada a lei 10.671, titulada como Estatuto do Torcedor, que
trouxe avanços quanto aos direitos e deveres dos torcedores em todo
o território nacional, mas passados 20 anos de sua efetivação é
preciso revisá-la, diante dos sucessivos fatos trágicos que temos
visto nos noticiários. É urgente endurecer ainda mais as punições
para banir criminosos dos estádios.
Na semana passada,
uma jovem torcedora do Palmeiras, de 20 anos de idade, integrante da
torcida Mancha Verde, foi mais uma vítima fatal da brutalidade da
guerra entre torcidas. Em partida contra o Flamengo, nos arredores do
estádio do Palmeiras, em São Paulo, a torcedora teve seu pescoço
perfurado por estilhaços de uma garrafa, arremessada por um torcedor
adversário, depois de uma confusão generalizada, causada por ambos
os lados. Socorrida em estado grave, a jovem não resistiu ao ferimento.
A morte da torcedora
não é um fato isolado, é uma prática de muitas torcidas pelo
país, que prega ódio, tem método, tem alvo e milhares de
seguidores dispostos a derramar sangue nas arquibancadas. Eles estão
mais interessados em agredir o adversário do que comemorar um gol do
seu time.
Que o canto de
milhares de torcedores, em catarse, nas arquibancadas, seja a única
trilha sonora dessa festa popular; vencendo ou sendo vencido, dentro
de campo, campeão mesmo é quem sai vivo dessa história.
Tiago Ortaet
Educador, escritor e gestor público
@tiagoortaet
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