ADOLESCÊNCIA A DERIVA

Noite chuvosa de trânsito caótico em São Paulo, água por todos os lados, estava a caminho da faculdade, quando minha vista embaçada pelos óculos molhados, avista uma jovem ofegante que se aproximou e sentou ao meu lado.
Estava naquele transporte público, que chamam de lotação, mas que poderia facilmente ser chamado de embarcação, tamanha era o aguaceiro da tempestade.  
A garota puxou assunto comigo me pedindo ajuda por que não sabia como chegar a um bairro da zona leste de São Paulo, onde ela havia marcado um encontro com uma mulher. 
Por instinto jornalístico fiquei curioso para saber mais detalhes daquela história que se apresentava diante de mim, mas me restringi a explicar como fazer para ela chegar ao seu destino. 
A pista virando um mar lá fora, ela navegando na Internet e eu boiando sobre o papo que ela fazia com alguém, por áudios. 
Era visível sua ansiedade. A todo momento ela puxava assunto e eu mesmo sem querer muito papo, por causa de uma dor de cabeça fortíssima, decidi dialogar para que ela se sentisse mais segura.
Certo momento ela me relatou que tinha 16 anos e estava indo ao encontro de uma mulher que  conheceu num aplicativo de relacionamento. Questionei se seus pais sabiam desse encontro, ela disse que sim e que sua mãe apenas pediu para ela tomar cuidado. 
Ela demonstrava bastante apreensão, estava inquieta, me confidenciou que nunca tinha pego ônibus para São Paulo e que tinha um certo medo de se perder. Falou também que estava apaixonada por essa moça, que segundo ela, tem mais de 20 anos. 
O que me preocupou foi ver uma adolescente numa situação de insegurança. Será que esses pais não temem que a filha vá ao encontro de uma desconhecida? 
É claro que a imaturidade de uma adolescente não a deixa ver os riscos, mas os pais não se importarem é algo assustador;  infelizmente cada vez mais comum, mas não deixa de ser assustador. 
Durante os quase 18 anos em que estive em salas de aula do ensino médio, vi muitas famílias perderem a autoridade de pais, diante dos filhos, justamente por que preferiram fazer o papel apenas de observadores, deixando o controle das situações nas mãos de quem ainda não tem maturidade para isso. 
Longe de mim pregar um discurso moralista, considero que os nossos filhos adolescentes podem ter autonomia para muitas coisas, gradativamente, mas dentro de um limite, dentro de uma razoabilidade capaz de dar chão para eles seguirem seus caminhos em segurança. 
Ao descer do coletivo, orientei a adolescente a procurar um segurança do metrô ou um policial, caso ela tivesse perdida ou mesmo se desconfiasse da mulher que ela encontraria. 
Parti para o meu destino com um aperto no coração, sem saber no que aquela aventura poderia desaguar. 
Nós pais, temos o dever de conduzir nossos filhos para ambientes saudáveis, porto e cais, inclusive sabermos com quem eles se relacionam virtual e presencialmente. 
Que não deixemos nossos jovens à deriva nas águas da vida. 

Tiago Ortaet 
28/02/2023

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