RETROSPECTIVA POÉTICA
Férias de
início de ano com muitas brincadeiras com as minhas crianças, tanto as internas
que me são lanternas para iluminar; são meus curumins que moram dentro de mim,
essência pra amar; quanto as que eu mesmo fiz, meu cortejo brincante segue
anunciante do que vivo, banho de tinta, elo nativo, cara lavada, caminhada
faminta, vida renovada...
Comecei o
ano seguindo a saga familiar de acompanhar meus meninos em sua rotina escolar
sem saber que estava pra chegar... Home office, home tudo. Mais tempo com meus bichos
felpudos...
Recebi
convite para ser padrinho de amigas que celebram o amor diverso, amor é o que
peço para caminhar nesse embrulho controverso...
Chorei
vendo filme, lacrimejei por momentos simples do dia a dia em família, apoiei
amigos por que amo gente que brilha. A dor que me acompanha foi andarilha e o
isolamento social obrigatório fez de cada um, uma ilha.
Batizamos
o Miguel, fui candidato, pró-ativo fiel, ouvi discurso chato e parei o carro
pra escrever poesia no papel, das dores do mundo tive tato, fui cancioneiro de
madrugada, chegada inesperada e aplaudi cidadão sensato. Fui fã, acordei de
manhã e fiz surpresa para as tias... Medi pressão e glicemia, a Vanessa foi da
minha saúde, uma espiã, fiz exame e café da manhã, do suco da vida coei o sumo
igual do abacaxi com hortelã. Joguei fora o néctar da personagem vilã...
Fui
julgado no tribunal da internet por gente que não sabe nada da essência Ortaet,
por figurinhas menores que seu bom senso; galos de rinha, piores que um dia
tenso, gente que não estende a mão e nem um lenço.
Resgatei
bichinho perdido, concluí livro infantil, refleti arrependido e ouvi sonho
estudantil... Visitei familiares antes da chegada da pandemia, gravei
vídeo-aula com euforia, isolei, melancolia, respeitei, consolei, disse que
sei... Mas as vezes nem sabia...
Fiz
cabana na sala, lembrei todo dia dos detalhes da convivência com a minha
materna que de tão eterna está sempre escalada nos meus sonhos, desci no
tobogã, risonho, em festa de criança, subi o morro, proponho; levar esperança...
Matriculei os meninos no ballet, renovei a minha fé e cumpri quarentena.
Insisto em construir uma democracia plena.
Como de
costume, aumentei o meu volume para transgredir as estruturas enferrujadas da
escola pública, propus ser feliz na coletividade, votei, sou verdade, respirei
cumplicidade, apoiei e fui votado... Fui campanha, de peito aberto, verdade
tamanha pra mostrar que política é pra trazer quem tá longe, aqui pra perto,
política do tom correto é como água no deserto, não é pra gente tacanha, é
serviço, não barganha; pra quem respeita a democracia, pra quem sabe ser
empatia...
Continuo
sem entender nada de mecânica, continuo encantado com o verbo “aprender” e
gente que eu conhecia fiz questão de esquecer...
Fui à
praia, criei álbum de fotos pra reviver as mais recentes viagens, comunguei da
verborragia contra a tirania, assisti novela e reality show e chorei quando a
vida da amiga se apagou...
Cozinhei
dia sim e outro também, percebi que a moral de alguns, vale menos que uma nota
de cem, li menos do que gostaria, escrevi poesia e repensei o significado de
assessoria...
Me
decepcionei com quem não imaginava, reforcei que trabalho em equipe nunca é um
"abra-ca-da-bra"... Me arrepiei de tanta tristeza, me compadeci com
um ano tão brutal, o destempero foi sobremesa do meu manifesto etnico-racial...
Acompanhei assustado a maior pandemia dos nossos tempos, a medicina moderna e
os contemporâneos seres da caverna... O vírus ia contaminando todo o planeta,
eu seguia devoto do papel e da caneta, queria ir buscar a cura para essa doença
numa viagem de cometa...
Falhei na
dieta, mas nesse ano tão esquisito, continuei lutando pelo que acredito...
Cursei
disciplina do mestrado como aluno especial, liderei campanha social, fui parar
no hospital, pressão bateu alto e poderia ter sido fatal, mas por enquanto a
saga humanista e cultural segue seu curso pelas águas desse manancial...
Desafiei
alguns dos meus medos, mas criei outros tantos, o maior de todos é o de ir
embora precocemente... Na tv um presidente que mente, na caminhada, um asfalto
bem quente, pra me lembrar do calor da minha mente e dos meus sonhos,
literalmente...
A vida continua sendo essa fita que não se rebobina, chegou ao fim o ano das dores, ano que ceifou tantos amores, ano do luto, da luta e do esforço pra tudo que se degluta... Ano da montanha russa da auto-estima, da bestialidade em forma de cloroquina e de arte como dopamina; a gente segue otimista, mas realista, esperando pela vacina. Da foto das minhas emoções, sem objeções, já posso dar um zoom, vem depressa 2021...
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