EU NÃO CONSIGO RESPIRAR...
Eu não consigo respirar
O peso do seu preconceito está
pressionando a minha garganta...
Eu não consigo respirar...
Seu ódio, no fim da tarde, servido de
janta...
Eu não consigo respirar...
Minha pele não é defeito, mas foi
sentença, foi meu delito diante de um servo maldito, colheita invertida do que
se planta...
Eu não consigo respirar...
Aquele meu ultimo suor frio, a prece
decanta, vira rio... Onde me afogo e meu olhar reticente no asfalto suplanta...
Eu não consigo respirar...
Não teve tempo, se quer da ultima prece,
não teve o que me valesse às pressas... Meu olhar, por fim, se agiganta...
Eu não consigo respirar...
Imploro pelo respiro de vida, mas não
adianta.
Eu já não posso me levantar, mas a
empatia do mundo, levanta!
Fui alvo da tirania, pinga sangue essa
poesia, na friagem da minha pele, já no cair do dia dessa fúria que é tanta...
Eu não consigo respirar...
Eu não aceito sua ignorância, todas as
vozes do mundo gritarão por mim...
Eu não consigo respirar...
Percebo que não sou aquele que é
assassinado ali, mas minha empatia revolta e acalanta...
Eu não consigo acreditar...
Nessa imensidão pelas ruas, contra o
sadismo desses que exportam, eu te encaro e digo: Vidas negras importam!
Na mente dos malditos, isso vai virar um
mantra...
Vidas negras importam...
Eu não consigo acreditar que eu não
estava ali, naquele asfalto, essa cena é um assalto da minha paz, sentado no sofá,
indignado entre manchetes de jornais.
Cada um de nós, de corpos habitáveis,
findamos um pouco ali naquela frase e renascemos em outra: Eu não consigo me
calar!
Tiago Ortaet
02/06/2020
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