As permanências da História (por Ivan Canoletto - historiador e educador de nossa escola)


Os estudos históricos nos apontam para a conclusão de que a História se constitui de permanências e rupturas, em longas e curtas durações dentro de diferentes tempos.
Essa noção pode parecer complexa a primeira vista e, de fato, o é. Para tentar elucidar isso, resolvi abordar um exemplo de permanência residual de práticas de um período tido como superado: “O Coronelismo”.
Trata-se de um conjunto de práticas nefastas nos primórdios da República brasileira, no início do século XX, poderia aqui destacar inúmeras delas, como o chamado “voto de cabresto”, onde os coronéis da antiga Guarda Nacional, grandes proprietários de terra, escolhiam os candidatos por seus empregados e acabavam por eleger alguém. Claro que isso não era feito sem uma compensação, como o investimento de dinheiro público em obras que beneficiariam a fazenda de tal coronel, ou um emprego público para um parente. Essa prática de empregar parentes era tão comum que recebeu até nome, ficou conhecida como “filhotismo” ou “cunhadismo”.
Apesar da insistência de alguns remanescentes dessa lógica, dentre os quais vale destacar José Sarney, hoje, empregar parentes no serviço público configura crime, nepotismo.
Parece então que, de fato, isso está superado, certo? Errado.
Na última quinta-feira, 25/09/2014, tivemos um exemplo claro da famosa confusão entre o que é público e o que é privado, de favorecimento de parentes dentro do setor público.
Sim, estou falando da confusão com as fotos e dos crachás de organizadores distribuídos a filhas de uma professora, que não são alunas do Gleba, no tão aguardado e planejado pelos alunos, Show da Annita.
No meu mundo ideal, o show poderia ser aberto à comunidade, e a Annita passaria o dia tirando selfies com todos, entretanto isso não é possível. Então por que não foram os representantes eleitos dos alunos e organizadores do evento, o Grêmio Estudantil, os escolhidos para as poucas fotos que nos foram ofertadas, ou o conjunto de funcionários, ou representantes da gestão? Por que duas garotas que nem estudam ou trabalham na escola? Na minha visão, pela permanência histórica, por culpa do pequeno” coroné” que vive dentro de alguns de nós da chamada classe média, confundindo o público e o privado, se encantando com o que Foucault, filósofo francês da segunda metade do século XX, chamaria de pequeno poder.
Esse pequeno poder pode nos seduzir a ponto de nos transformar em verdadeiros feitores, destratando colegas e semelhantes, algo muito preocupante.
Não quero aqui atacar nem julgar ninguém, não se trata de uma “caça as bruxas”, pretendo apenas fazer um alerta para que toda a comunidade escolar reflita e passe a lutar pela democracia plena, pelo fim da perpetuação dessas velhas práticas, para começarmos a mudar nossa História pela escola, pelo bairro, e não só esperar por um milagre das urnas.
Ivan Canoletto Rodrigues
29/09/2014.

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