DIVIDINDO MINHAS REFLEXÕES ARTÍSTICAS-PROFISSIONAIS-INSTITUCIONAIS COM VOCÊS: MEUS ALUNOS

NÃO É TUDO NA VIDA QUE PRECISA SER RESPONDIDO.
UM OLHAR FEIO LANÇADO AOS SEUS, UMA ENERGIA MUTILADORA LANÇADA AOS SEUS ESFORÇOS OU TENTATIVAS VELADAS DE UM MAL-TEATRO PLEITEIA A CORROSÃO DO OUTRO. NA VIDA A GENTE SEMPRE TENTA CORRIGIR UMA QUESTÃO; A MIM BASTA UMA TINTA OU TECLADO NA MÃO.
MAS FAÇO MINHAS AS PALAVRAS DO MAIS SÁBIO QUE EU: LECOQ!

O silêncioJacques Lecoq


   Como um silêncio denso e prolongado,
   Eu me calo,
   Tu não tomas a palavra
   Porque foi um longo silêncio...
   Tudo não foi mais que silêncio.
   O silêncio anterior à batalha, essa vigília de armas, feita da espera do amanhecer, e esse silêncio que sucede os combates, que se instaura no lugar dos ruídos.
   Sim, ele permanece no silêncio, o herói.
   Mas também a criança, quando não sabe o que responder, oferece seu silêncio como resposta.
   Todos trabalhavam em silêncio, concentrados em suas tarefas.
   Os primeiros passos ressoam claros sobre o betume das primeiras horas da manhã, como que isolados; destacam-se sobre o silêncio da noite que se esfuma.
   A vida sustada, dir-se-ia; como que suspensa na respiração contida.
   O silêncio dá vida a olhares nunca vistos, a gestos ainda não ousados.
   Tudo é eminente; para que um braço que se ergue tenha um sentido, nós o esperamos no silêncio da expectativa, que dá ao ato que se segue todo seu valor; assim, a palavra é esperada como necessária ao encontro.
   O silêncio afasta também consigo adeuses que nunca se deram.
   Em uma solidão que se fecha e encerra, em um silêncio que se acaba...

   É a partir do silêncio que nasce a qualidade do gesto e da palavra. É nesse crisol que se preparam os impulsos e as pulsões que organizam, no espaço interior, os ritmos em urgência de emergência: ele vai falar? agir? Ele ergueu-se, caminhou, voltou-se, olhou-me por apenas um instante, um instante suficiente para a compreensão, e continuou seu caminho.
   O silêncio é investido de qualidades muito diferentes, conforme preceda ou suceda uma ação, um ato, uma palavra. A urgência de uma ação que nos mobiliza inteiramente requer um silêncio propício a essa ação. A ação o exige. Um alpinista que escala uma parede não sente necessidade de falar. Uma pequena ação rotineira que não requer grande concentração, mas uma espécie de automatismo, pode propor a palavra a fim de facilitar o próprio ato, e para que ele não seja realizado com enfado. As velhas falam ao tricotarem, e raramente sobre o que estão fazendo.
   O silêncio inicial assemelha-se à concentração que deve favorecer a ação subseqüente. O estádio emudece: o atleta imóvel, concentrado sobre si mesmo, vai tentar o recorde mundial de salto em altura, cercado por um silêncio espantoso. Silêncio, ação, reação. As ovações explodem, o vencedor ultrapassou a barra da vitória.
   O silêncio depois da ação conduz mais à reflexão, ao recolhimento em si mesmo. Após ler no mural o resultado dos exames, o estudante reprovado muitas vezes permanece em um silêncio doloroso, próximo das lágrimas. Ele, que tinha feito tudo para ser aprovado, está prostrado. Isola-se e não quer ver ninguém.
   O silêncio anima o olhar, por si mesmo. Sempre há nele mais um retorno para si do que uma abertura para o exterior.
   O tímido freqüentemente é silencioso: ele olha, mas como se estivesse protegido por si mesmo.
   O silêncio sempre se oculta na profundidade, lá onde deve ser procurado por quem quiser encontrá-lo.

   Não há conflito entre a palavra e o silêncio; o silêncio dá à palavra sua profundidade. Um discurso que ignorasse a qualidade do silêncio não passaria de verborragia. Gostaríamos de dizer: "Chega! Cala-te! Tua fala não contém o silêncio necessário para que alcance seu verdadeiro valor." A emergência do não-dito está lá...
   
In "Le Théâtre du geste", org. de Jacques Lecoq, Ed. Bordas, Paris, 1987. Tradução de Roberto Mallet. 

Para comentar essa matéria clique no link abaixo "0 comentários" Se desejar clique em www.youtube.com/tiagoortaet para acessar nosso canal de videos de arte e cultura

Comentários

MAIS LIDAS

PEÇA TEATRAL SOBRE A CONSCIÊNCIA NEGRA - Professores: Mirian (Português) e Tiago (Arte)

O QUE É E PRA QUE SERVE UM CONSELHO ESCOLAR???

TEXTO "Tráfico Negreiro e Escravismo no Brasil I e II" da PROFESSORA ROSNEY ÀS 6ªs e 7ªs séries INTERDISCIPLINAR com ARTES