PALESTRA DO PROFESSOR DR. FÁBIO RODRIGUES

ENCONTRO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA

Ilha de São Vicente - Mindelo – Ilha de Santo Antão - Cabo Verde – África 2010

RESUMOS DAS PALESTRAS DO TERCEIRO DIA
Por Tiago Ortaet - Arte/Educador Brasileiro

O estado da Arte/Educação do Brasil
Fábio Costa (Pós Dr. da Universidade Regional do Cariri – CE – BRASIL)

Em conversas com o professor Fábio desde a vinda para Cabo Verde, ainda no aeroporto, pude mergulhar em suas teorias, para mapear, mesmo que de forma superficial, suas concepções de arte através de seus muitos anos de formação e pesquisas.

O professor iniciou sua fala, absolutamente didática e tátil, pois foi capaz de nos situar no contexto sócio-cultural do interior do estado do Ceará, para somente após essa compreensão pudéssemos relacionar as três pesquisas acadêmicas apresentadas.

Segundo Fábio “Essa região do interior do CEARÁ abriga uma grande concentração de artesãos. Somos constituídos por 34 cidades.

Nessa região nunca antes houve a oportunidade de ter recursos e aparelhamentos culturais dos quais usufruímos hoje.

Temos escolas municipal, estadual e federal. Atendemos quase 2 milhões de estudantes dessas redes.

Concebemos arte/educação como campo epistemológico, na escola chamamos a área de ARTES no plural por atendermos as quatro formações principais, (Teatro, Música, Dança e Artes Visuais) portanto deveríamos ter quatro diferentes professores de artes em todas as escolas de educação formal, teatro, musica, dança, plásticas; porém poucos municípios contemplam essa necessidade.

Mas se não há formação para essas linguagens, quem ensina arte?

Pensando na estrutura de universidade brasileira:

Mapeamos três cidades: Barbalho, Crato e Juazeiro do Norte, num total de 32 escolas, quase 400 professores não habilitados em arte, mas que ensinam arte.

É preciso pensar a partir de cada contexto cultural da cidade e não há como generalizar a situação do ensino de artes no Brasil, devido sua grandeza e diferença. Falamos aqui de Brasis e não de um único modelo, um Brasil semelhante de Norte a Sul; há diferenças absolutas.

Muito se fala do professor de artes, mas alguém já ouviu esse professor?

Começamos nossa pesquisa partindo de Paulo Freire, sempre estimulamos bastante o que ele chamou de temas geradores, ao invés de se chegar com uma pergunta para um entrevistado, chegamos com um tema; por isso o sujeito é quem fala sobre o que ele pensa da condição dele.

Dentro dessa narratividade vamos trazendo outros temas que nos interessam, nessa fala o sujeito se estende e se envereda por muitos caminhos. Nós pesquisadores absorvemos tudo.

Na metodologia cartesiana, na pesquisa do método científico se controla a fala do outro, nesse caso não, deixamos fluir o que ele tem a dizer; isso leva horas, por isso não poderíamos falar com tantos docentes.

Fizemos uma mostragem da cidade de Barbalha; segundo Piter Maclaren é preciso da consciência no mundo, a partir da presença do professor na escola, como também pensava Paulo Freire.

Entrevistamos os professores na própria escola que é seu ambiente de trabalho.

A terceira pesquisa se soma com as outras duas, pois em 2006 tivemos o primeiro centro cultural da cidade de Juazeiro do Norte. Foi a partir desse governo que tivemos quebras de vários paradigmas.

O banco do nordeste que pertence ao governo federal, instituição se preocupa com problemas da região nordeste, ou seja, em seas nove estados; passou a investir em centros culturais.

No Brasil estamos acabando com essa idéia de que a capital coloniza o interior e no interior não tem nada.

A partir da Conferência Nacional de Cultura, fomos movidos a pensar nacionalmente um projeto de cultura para o país, tivemos também conferência dos negros do Brasil.

Nestor Garcia Canclini, introduz o conceito de centro cultural para o plano nacional de cultura do pais, que esse espaço seja mais amplo e mais próximo das manifestações Brasileiras. Estamos num fenômeno de hibridização, como os conhecimentos se fundem e se formam outros saberes.

Fui curador de uma exposição onde o tema gerador eram telhados. Os telhados das casas brasileiras no século passado eram modelados nas cochas dos escravos. Essa artista parte desse tipo de telha para questionar o abrigo e o desabrigo, ela problematiza isso. Levamos esse conceito para CARIRI onde tem uma produção enorme dessas telhas, daí as pessoas perguntavam: isso é arte? Mas a artista estava querendo a metáfora do objeto e não simplesmente a estética do objeto.

Nossa pesquisa pergunta: Que impacto esse centro cultural tem provocado no artista local? Até que ponto o usuário que freqüente esse ambiente se resignifica.

Na pesquisa descobrimos que as pessoas prestam atenção em espécies como o chão com seus ladrilhos e o elevador e não nas obras lá expostas. Conseqüentemente pensei no Livro de Pierry Bordieaux “O amor pela arte” na década de 70 faz uma grande pesquisa na França sobre os museus e faz uma exaustiva pesquisa quantitativa diferenciando as pessoas que freqüentam os museus e detecta que os freqüentadores são pessoas que tiveram acesso ao conhecimento.

PERGUNTAS EM PLENÁRIA:

Tiago Ortaet: Você se referiu a talento, mas essa questão do dom não pode tolir ou inibir um jovem que não se sinta com esse dom, interferir a capidade de todo e qualquer individuo de experimentar a arte na escola? Arte se ensina e se aprende.

Fábio Costa: Quando falamos de talento e a única forma de sermos competentes era que desse aos olhos de quem via, não produzindo conhencimento, mas fazendo um evento agradável para a escola.

O professor de arte não pode acreditar que está ali para julgar quem tem ou não talento, ele está a provocar essas habilidades.

T.O.: Você acredita que as novas iniciativas dos museus de popularizar seus acervos através de planos de incentivos aos setores educativos tem mudado a concepção do que é um museu de arte? Bordieuax pesquisa ethos e habitus, sendo assim o habito pode fazer uma nova consciência para a ocupação popular de todos esses espaços.

F.C.: Alguns anos todos os museus do mundo foram questionados para que deixassem de serem depósitos para se converterem em instituições educativas, desde as crianças até pessoas de mais idade, para se apropriarem de narrativas.

Entendo que a arte é uma narrativa, da interpretação que o artistta faz de seu tempo de seu lugar.

Antigamente os museus detinham o poder absoluto para uma única leitura.

Os museus europeus temos uma exposição permanente e também as chamadas temporárias, vi uma experiência no museu de belas artes de Sevilha e em Madrid e também na documenta de kassel a incorporação de artistas contemporâneos paralelos aos clássicos, ou seja, os dois estilos e períodos no mesmo espaço.

Não tinha publico nos museus, pois o distanciamento ainda é muito grande.

Só a imponência do local já espanta o popular de um espaço tipicamente de elite (Ana mae também comentou ontem a mesma coisa).

O museu não se percebeu essa falta de publico, foi o publico quem provocou essa reflexão com sua ausência.

Compete ao arte/educador refletir as ações educativas e não o curador; porém toda equipe deve se envolver.

A arte não fala por si mesma, ela provoca você a falar com ela. O teórico Brasileiro João Francisco de Souza se tornou um investigador que procurava atualizar as visões de Paulo freire para a contemporaneidade.

É preciso que os sujeitos tenham a oportunidade de se conhecerem... Nós temos no nosso país modelos colonizadores. Os museus estão passando por suas resignificações.


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