Caio Martins Ramos (filho de nossa querida Professora Eneida) reflete política: vale a pena ler!

Gostaria de polemizar um assunto do momento que muitos tomam como certo e necessário e analisá-lo sobre outra perspectiva: o voto consciente. Ultimamente, vejo uma grande variedade de posts nas mídias socias (principalmente no facebook) tentando divulgar a necessidade de se votar consciente para construirmos um país melhor. Este clima, criado as vésperas das eleições por estes posts além de propagandas dos candidatos e do TSE, muitas vezes é tão contagiante que por vezes me sinto quase persuadido a me entregar a esta força da massa participando desta fervorosa campanha para disseminar o voto consciente em todos os canais de comunicação que tenho acesso.
Ainda assim, resisto, pelos argumentos que pretendo apresentar a vocês logo a seguir. Veja, sei que isso pode parecer contra o senso comum de como mudar o país e sei que o sangue pode começar a ferver na cabeça dos mais indignados com o cenário político em que estamos. Apenas peço paciência e calma ao ler os argumentos que compartilho com vocês. Analise estas ideias friamente e racionalmente. Pondere se elas são razoáveis para você. Também ando muito indignado. Ando tão indignado que não sei nem em quem irei votar, pois parece que a minha escolha se resume sempre a optar pelo menos pior nas ultimas eleições. Me antecipo aos torcedores de plantão, os torcedores partidários, aqueles que cegamente defendem os seus times... ops, partidos, e já esclareço que não defenderei partido algum, pois penso que eles já não mais representam os ideais que foram construidos para representar, e que, portanto, não representam mais as pessoas que votam neles. De fato, penso que o centro do problema em nossa democracia é exatamente este: nossos interesses já não são representados apropriadamente tanto no executivo quanto no legislativo. Trata-se de uma crise de representação, uma crise democrática e o pior de tudo isto é que todo mundo já sabe disso. Afinal, o que foram as manifestações de julho de 2013 que não um grito de desespero direcionados aos políticos com o intuito de lembrá-los de que nós ainda estamos aqui? “Ei, políticos, me representem, poxa! Eu tô aqui, droga! Votei em vocês! Não lembram? Preciso de um monte de coisas e vocês tão aí decidindo em quanto vão aumentar o salário de vocês! Não pode! Quero saúde e educação!”. Vale ressaltar que estes gritos logo foram abafados com promessas vazias de reforma, com a crescente violência nos protestos e a crescente mudança da opinião pública (muitos começaram a proclamar abertamente que “a mudança tem que vir nas urnas! Vote consciente! Pare de protestar!”), mas lembre-se: eles existiram.
Vamos lá, veja se você concorda com o Joãozinho: “Bem, tem algo de errado, não? Analisei as ideias do partido do meu candidato a deputado (sei lá). Entrei no blog do cara pra ver as propóstas dele. Assisti a propaganda eleitoral todos os dias pra ver o que ele defendia e ele disse que era a favor da educação. Estudei um pouco das ideologias do partido dele e pá! Votei no cara. E pô! A Câmara aprovou uma porcaria de um projeto que é desfavorável para a educação, projeto com o qual eu não concordo! E veja, não é só eu! Tem um montão de gente que não concorda! Tá todo mundo nas manifestações! O que tá acontecendo?”
Resposta: “Ora, Joãozinho, é porque nem todo mundo votou consciente! O povo é muito burro mesmo, né? Não sabe votar. Olha só, a solução é a educação! Vamos colocar um monte de posts no facebook falando pra todo mundo votar consciente e talvez as coisas mudem! Nossa já tô até me sentindo melhor. :D”
Aí o Joãozinho naturalmente retruca: “OK, temos que votar conscientemente. Mas o que é votar consciente?”
Aqui está um definição que busquei na Internet:
“Como votar conscientemente
Em primeiro lugar temos que aceitar a ideia de que os políticos não são todos iguais. Existem políticos corruptos e incompetentes, porém muitos são dedicados e procuram fazer um bom trabalho no cargo que exercem. Mas como identificar um bom político?
É importante acompanhar os noticiários, com atenção e critério, para saber o que nosso representante anda fazendo. Pode-se ligar ou enviar e-mails perguntando ou sugerindo ideias para o seu representante. Caso verifiquemos que aquele político ou governante fez um bom trabalho e não se envolveu em coisas erradas, vale a pena repetir o voto. A cobrança também é um direito que o eleitor tem dentro de um sistema democrático.” (fonte:http://www.suapesquisa.com/religiaosociais/eleicoes_voto.htm)
Que bonito, né? Então, para vivermos num país de ponta, tipo os Estados Unidos, temos todos que votar conscientemente e para votar conscientemente, basta seguir as regras acima. Beleza. Será mesmo?
Veja só, você acredita mesmo que é possível que todo mundo que você conhece acompanharia individualmente o que aconteceu no cenário político ao longo de 4 anos, analisaria os votos do seu candidato e os compararia com seus valores, isso tanto na esfera municipal, quanto na estadual, quanto na federal? Você acredita que todos os mais de 130 milhões de eleitores teriam tempo, disponibilidade e energia para fazer isso? Tá, mesmo que esse conto de fadas de repente fosse possível, como o candidato saberia quem votou nele individualmente e porque votaram nele para garantir que o mesmo grupo de pessoas votassem nele nas próximas eleições? Afinal todo político quer se “perpetuar no poder”. Poxa, o deputado vai ter que conhecer mais de 30 mil pessoas individualmente? Responder 30 mil e-mails e telefonemas todo dia? O presidente vai ter que conhecer e atender a 130 milhões de pessoas individualmente? Sério? Isso é inviável. Ao meu ver, ele não consiguiria tomar qualquer decisão se fosse analisar as vontades individuais de cada cidadão tentando compilá-las em vontades coletivas. Seria impossível, percebe? Seriam milhares de vontades diferentes e qualquer tentativa de encontrar uma forma de satisfazer a todas elas seria completamente irracional. Fora que nem um batalhão inteiro de secretárias seria capaz atender a esta nova demanda de escutar a todos e anotar as necessidades de cada um. Veja, seu voto até é importante, mas não é tão importante assim (a realidade é dura). E veja mais: quanto vale o seu voto individual? É uma pergunta interessante, não? Na última eleição presidencial, por exemplo, seu voto “valia” aproximadamente (1/130.000.000) considerando que o poder político total é 1. Na eleição que irá ocorrer este ano este número vai ser ainda menor. Veja, a cada eleição que passa seu voto vale menos, pois há cada vez mais pessoas. A população do Brasil está crescendo e logo chegará a 250 milhões nas próximas décadas. E seu voto valerá ainda menos. Vamos olhar o número da última eleição novamente: 0.000000008. Este era o seu poder político nas últimas eleições e este ano vai ser ainda menor. E dizem que devemos ficar quietos, sem manifestações de qualquer gênero (cuidado aqui, pois não sou a favor de manifestações violentas como espero deixar claro, até porque não funcionam), e que a real manifestação tem que ser nas urnas. Individualmente. Beleza, ó! Vou mostrar o meu poder de voto. Yeah! 0.000000008!... ops, 0.000000007. É desanimador, não?
Não! Espere, tive uma ideia! Vou escolher um candidato e vou divulgar para todos os meus amigos votarem nele! Assim posso multiplicar os votos e de repente meu candidato se elege. Bem, infelizmente, você pode até ser um cara com um bom networking e tal, mas dificilmente vai conseguir levar mais de 10-20 pessoas a votarem nesse cara conversando com cada um individualmente. Em algum momento você vai perceber que será necessário propaganda e marketing e aí é que está um dos maiores problemas da democracia atual. Espalhar ideias, a não ser que você seja extremamente paciente e dedicado e tenha tempo infinito, é caro! Não é pra qualquer um. Precisa de $$$$. Veja quanto custou a campanha eleitoral do Lula em 2006: R$91.490.670,71. Quando eu vejo esse número me bate um desanimo tão grande que me dá uma vontade de desistir haahah. Muitos pensam: “Dane-se! Meu voto vale 0.000000008 e dá muito trabalho (ou custa muito dinheiro) convencer as pessoas a votarem em quem eu acredito. Desisto.”. É o que a gente chama ser racionalmente ignorante. A ignorância nesse caso é até justificável, pois mesmo que eu fique indignado, dá tanto trabalho conseguir alguma mudança, que deixa pra lá! Se eu focar na minha vida individual e gastar este tempo nos meus problemas vou ter muitos mais benefícios do que se gastar meu tempo pensando em quem votar. Não é óbvio? Pois é. É por isso que em média 30% das pessoas ou deixam de votar, ou votam nulo ou branco. E esse número vem crescendo. As pessoas não acreditam mais nessa democracia que está institucionalizada. E o pior que elas tem uma certa razão nisso, manja?
Aí é que está, e é aonde eu quero chegar. O problema não está no fato das pessoas votarem conscientemente ou não. Isso não faz muita diferença como a gente pode observar (lembra? 0.000000008!). Tem um problema é com a estrutura da nossa democracia! Ela não foi pensada para 130.000.000 de eleitores! Isso sem nem considerar outro fato. Quem é que paga as campanhas dos políticos que ganham as eleições? Mais de 80% da grana geralmente são doações. Doações de quem? Principalmente de empresas. Ora, e porque empresas doariam dinheiro? Gente, posso estar errado, mas penso que muitas doam o dinheiro pensando em obter um retorno futuramente. Ora, doei capital, mas futuramente este político mudará legilações (ou realizará ações) que serão benéficas para mim, que me trarão mais lucro! Mais capital do que investi, geralmente! Eles estão comprando com dinheiro a representação que eu exijo através do meu voto. E quem será que ganha essa representação, R$10 milhões ou 0.000000008? Hummm, que dúvida hein!
E como resolve? Não tenho certeza, mas tenho um palpite! Não adianta apenas o voto consciente! Precisamos é do voto consciente coletivo. Com o voto coletivo, você elimina todos estes problemas e outros. No entanto, tem uma questão: você tem que estar disposto a “abrir mão” da sua escolha individual em prol da escolha coletiva (bem você já faz isso, porque você vota, né? Heheh). Bem, funcionaria como uma mini democracia. Seria uma pequena célula democrática. É um risco, que penso trazer muitos mais benefícios do que prejuízos. Mas como disse, ainda não tenho certeza, pois isso tem que ser discutido em grupo! Não pode ser fruto apenas da minha cabeça. Assim, convido vocês a participarem deste grupo aqui:https://www.facebook.com/groups/893839733964574/. Ele se propõe a fazer exatamente isso, ser um embrião da solução deste grande problema da nossa democracia: não somos mais representados.

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